Conjuntura Política
RAP-Butantã debate alternativas para manter ações de solidariedade em meio à ausência de políticas públicas voltadas aos mais pobres
16/02/2022 10h50
A Adusp vai participar na tarde desta quarta-feira (16/2) de uma reunião com lideranças comunitárias dos bairros da Zona Oeste de São Paulo, nos quais têm sido concentradas as ações da Rede de Apoio Popular Butantã em Combate ao Coronavírus (RAP-Butantã). A reunião ocorre na sede da Associação Cultural União de Bairros, no Jardim d’Abril.
O objetivo do encontro é conversar com as lideranças a respeito das demandas e necessidades das comunidades mais atingidas pelos efeitos da fome, do desemprego e do agravamento da crise econômica gerados pela pandemia.
No próximo sábado (19/2), às 10h, uma plenária em formato virtual vai fazer um balanço dos dois anos de ação e planejar os próximos passos da rede.
“A RAP-Butantã foi criada em abril de 2020, logo no início da pandemia de Covid-19, quando percebemos que o poder público não apresentava propostas de solução para o problema que já se anunciava naquele momento: o aumento da pobreza e da fome. Como medida emergencial, buscamos uma saída que visava proteger a saúde e a vida das pessoas”, diz a presidenta da Adusp, professora Michele Schultz.
“No entanto, passados quase dois anos, a ausência de políticas de assistência às pessoas mais pobres permanece. Por isso, estamos levantando junto às comunidades quais ações podemos tomar para exigir que os governos deem assistência para essa população. Por exemplo, o avanço da fome não impede que a Prefeitura de São Paulo suspenda a distribuição de marmitas, com a interrupção do Programa Cozinhando pela Vida [que vai ocorrer no final de fevereiro], assim como o governo do Estado não se constrangeu em reduzir e até fechar restaurantes do programa Bom Prato”, prossegue.
Ellen Amaral, uma das lideranças da RAP-Butantã, agente da Pastoral da Criança da Comunidade Natividade do Senhor, na Vila Universitária, enfatiza que é preciso discutir alternativas para a continuidade das ações. “Seguimos nessa luta de emergências e de solidariedade, mas saltam aos olhos a ausência e a omissão do poder público.”
Na avaliação de Ellen, todas as pessoas envolvidas no combate à crise – voluntária(o)s, doadora(e)s, lideranças e moradora(e)s em situação de risco – estão cansadas, “enquanto o poder público permanece negligente”.
Um quarto das unidades de saúde da capital relata atendimentos decorrentes da fome
Preocupações semelhantes foram manifestadas por integrantes da RAP-Butantã em reportagem veiculada pela Rede TVT sobre a criação do Fundo de Combate à Fome na capital. A lei, originada de um projeto da vereadora Erika Hilton (PSOL) aprovado por unanimidade na Câmara Municipal em dezembro do ano passado, foi sancionada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em janeiro.
O texto determina que o fundo será constituído por dotações orçamentárias específicas, além de doações, auxílios, subvenções e outras receitas. Os recursos devem ser aplicados exclusivamente em programas e ações de garantia à nutrição e à segurança alimentar, incluindo proteção à criança e ao adolescente e incentivo à agricultura familiar.
Claudete dos Santos, integrante da RAP-Butantã e liderança comunitária do Jardim d’Abril, ressaltou que “fazia muito tempo que a gente não via uma situação de fome assolar com tanta força como durante a pandemia”.
Maria Angélica de Oliveira, que também atua na rede e é conselheira da sociedade civil no Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da cidade de São Paulo, salientou que o plano é importante, mas precisa se aproximar da realidade das comunidades. Também destacou que o conselho deve incidir em sua formulação e acompanhar o seu andamento, inclusive para garantir a destinação de recursos de forma permanente.
A partir da publicação da reportagem “Remédio para a fome”, publicada pelo Uol em novembro do ano passado, a vereadora Erika Hilton encaminhou um requerimento de informações à Prefeitura para ter acesso aos dados sobre as pessoas que procuravam os postos de saúde da capital em decorrência da fome.
O trabalho dos jornalistas Felipe Pereira e André Porto mostrou o crescimento do número de moradora(e)s de São Paulo que iam aos postos de saúde relatando passar fome e pedindo comida. Numa UBS da Zona Sul, a(o)s profissionais chegavam a fazer vaquinhas para comprar e distribuir cestas básicas.
De acordo com a coleta de dados feita entre os dias 1º e 14/12/2021 e encaminhada à vereadora, 122 das 483 unidades de saúde respondentes (o equivalente a 25,2%) “afirmaram possuir demanda de atendimento para indivíduos com sintomas decorrentes da fome”.
Contribuições podem ser feitas em conta da Adusp
No último sábado, a RAP-Butantã fez mais uma ação de distribuição de cestas básicas no Jardim d’Abril. Nesta terça (15/2), a rede recebeu outras 200 cestas oriundas do Programa Cidade Solidária, mantido pela Prefeitura de São Paulo.
A Adusp participa da RAP-Butantã desde a sua criação. Também integram a rede o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e o Coletivo Butantã na Luta. Além das ações de solidariedade, como a distribuição regular de cestas básicas para 200 famílias cadastradas na região, a rede realiza atividades em parceria com outras organizações não-governamentais, entidades e associações.
A Adusp disponibilizou uma conta corrente para o recebimento de doações:
Associação dos Docentes da USP
Banco do Brasil
Agência: 4328-1
C/C: 117-1
CNPJ: 51.688.943/0001-90
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