Nesta altura da Copa do Mundo, os campi das três universidades públicas paulistas poderiam, além de curtir tranquilamente o que acontece nos campos de futebol da África do Sul, caminhar para o período de provas e entregas de trabalhos de final de semestre dos estudantes de graduação e de pós-graduação; ter docentes e funcionários técnico-administrativos envolvidos harmoniosamente nas suas atividades em salas de aulas, bibliotecas e laboratórios de pesquisa; tê-los também envolvidos, em diversas unidades das universidades, na preparação dos cursos de extensão universitária que costumam acontecer no mês de julho.

Em particular, no campus da USP localizado na cidade universitária do Butantã, além dessas atividades costumeiras de trabalho, poderíamos ver a população paulistana passeando pacificamente nos finais de semanana terra de muita gente, e não “na terra de ninguém” como irresponsavelmente disse o reitor Rodas em entrevista à Rádio Bandeirantes. O outono na USP poderia, enfim, ser vivido serenamente, após o término das negociações de data-base.

Se isso não está ocorrendo, a responsabilidade é da intransigência dos reitores, que não quiseram, ou não souberam, ou não puderam dar sua contribuição como atores ativos na crônica de uma negociação civilizada de data base anunciada, pelo Fórum das Seis, ao longo dos meses de janeiro, fevereiro e março.

Crônica anunciada

Os atores constituintes do Fórum das Seis procuraram cumprir seus papéis nessa crônica civilizada anunciada, procurando a todo custo que não se repetissem os eventos das datas-bases mais recentes, em particular a de 2009, quando, ao invés do diálogo, tivemos um longo silêncio por parte do Cruesp, que levou sucessivamente ao conflito, depois ao confronto e, no dia 9 de junho, à invasão da PM!

Vejamos como agiu o Fórum neste ano: em janeiro, estabeleceu um cronograma de atividades para as entidades que foi cumprido integralmente; em 12/2 solicitou ao Cruesp uma primeira reunião de negociação para a semana de 19 a 23/4; e durante o mês de março foi construída a pauta unificada de reivindicações de docentes, estudantes e funcionários, entregue ao Cruesp em 30/3. Ao longo desses meses, o Fórum encaminhou inúmeros ofícios que buscavam o diálogo.

Como agiram os atores constituintes do Cruesp? Anunciaram, no início de março, a concessão de um reajuste de 6% apenas para os docentes; tardaram dois meses para responder ao primeiro ofício, marcando a primeira reunião de negociação para 11/5; nesta reunião, agiram de maneira desrespeitosa, autoritária e intransigente; recusaram-se a discutir a contraproposta do Fórum na segunda reunião, ocorrida em 18/5; e fizeram as primeiras ameaças de corte nos salários dos grevistas. Em resumo, ao longo desses meses ignoraram o convite ao diálogo civilizado.

Contraproposta

Como já ressaltamos em edições anteriores do Informativo Adusp, se aos reitores parecia difícil — face à previsão da arrecadação do ICMS — aceitar a reivindicação salarial inicial de 16%, acrescida de parcela fixa para diminuir a relação entre os menores e os maiores salários, eles poderiam, então, ter analisado a contraproposta apresentada pelo Fórum na segunda reunião: reajuste de 12,9% para docentes e funcionários — ou seja, extensão aos funcionários do reajuste de 6% concedido aos docentes a partir de fevereiro, deixando para outubro a negociação visando os 16% e a parcela fixa. O aumento expressivo da arrecadação do ICMS nos cinco primeiros meses do ano já indicava ser possível aceitar, com tranquilidade, essa contraproposta.

Os reitores, infelizmente, preferiram trilhar o caminho que conduzia à crônica de uma ocupação anunciada. É preciso insistir que o ofício do Fórum de 12/2, sugerindo que a primeira reunião ocorresse em abril, havia sido encaminhado ao reitor Rodas, então presidente do Cruesp, que poderia ter evitado a greve e a crise decorrente do corte dos salários se tivesse, ao menos, respondido àquele ofício.

Se ao reitor da Unicamp, como presidente do Cruesp, coube o papel do patrão intransigente que viaja quando deveria negociar, coube ao reitor da USP exacerbar seu papel de provocador, por meio de entrevistas destemperadas, corte nos salários dos funcionários mais humildes, artigos cheios de meias-verdades estampados nas páginas da “imprensa livre e investigativa”, que não se peja de ser pautada por esse tipo de discurso.

Ditadura

Cabe aqui lembrar que Rodas fez menção à ditadura militar em mais de um momento. Em artigo publicado na página 2 do jornal Estado de S. Paulo, em 10/6/2010, em função dos acontecimentos mais recentes na USP, Rodas escreve que “os sindicatos da USP continuam a se servir de métodos utilizados quando da luta contra a ditadura, nas décadas de 60 e 70, inobstante os tempos serem outros e o cenário ter-se modificado”. É verdade que não vivemos nos tempos da ditadura, mas será que a democracia está presente na forma de atuar da Reitoria?

Para culminar, o Comunicado Cruesp nº 5, de 10/6, segue no mesmo tom do artigo do Rodas. Afirma, no parágrafo final, que “os reitores da Unicamp, USP e Unesp mantêm-se abertos ao diálogo, mas consideram que atos à margem da lei inviabilizam a interlocução civilizada”! E por que não estavam abertos ao diálogo civilizado no meses de janeiro a maio? Querem enganar a quem?

Se os reitores quiserem ver o cotidiano das três universidades voltar ao normal, precisam estabelecer um diálogo efetivo com o Fórum das Seis para dar um fecho satisfatório a esta etapa da negociação de data-base, 1) estendendo o reajuste de 6% aos funcionários técnico-administrativos, 2) repondo os valores cortados nos salários e 3) agendando a negociação civilizada dos demais itens da pauta unificada. Só assim será possível retomar a pretendida crônica de uma negociação anunciada.

 

Informativo nº 307

EXPRESSO ADUSP


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