Defesa da Universidade
Em novo protesto por moradia e permanência dignas, estudantes fecham entrada da Cidade Universitária e realizam ato diante da Reitoria
Durante a manifestação nesta terça-feira (20/9), uma comissão de representantes do DCE-Livre e da Amorcrusp foi recebida pela Administração e reuniu-se com a pró-reitora Ana Lanna (Inclusão e Pertencimento) e outros gestores da USP, que anunciaram iniciativas para resolver o problema da falta de água no Crusp
Foto: Daniel Garcia
“O Crusp tem sede, caminhão pipa já”. A palavra de ordem, vista nos dizeres de um cartaz improvisado, sintetiza um dos dramas vividos pelo(a)s estudantes que moram no Conjunto Residencial da USP, na Cidade Universitária do Butantã, e que resultaram no protesto realizado na manhã desta terça-feira 20/9, um dos maiores ocorridos nos últimos meses. Além de fechar o Portão 1, o principal do campus da capital, os e as estudantes promoveram um vigoroso ato diante da Reitoria.
As dificuldades no abastecimento de água no Crusp são apenas um dos diversos problemas enfrentados pelo(a)s estudantes que dependem de assistência da universidade. No entender da categoria, as políticas de permanência estudantil definidas pela Reitoria são insuficientes e estão muito aquém das necessidades, dificultando, especialmente, a continuação dos estudos daquele(a)s discentes que ingressam nos cursos de graduação da USP pelo sistema de cotas.
A mobilização desta terça foi aprovada em assembleias e convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre), por diversos centros acadêmicos e pela Associação de Pós-Graduandxs (APG-Capital). No ato, foi lida a “Carta de Reivindicações do Comitê por uma Reforma Democrática do Crusp”, que traça um diagnóstico da situação atual da permanência estudantil e pede medidas contra as deficiências apontadas. Além das entidades representativas do corpo discente, o comitê inclui a Associação dos Moradores do Crusp (Amorcrusp).
“Fim da falta d’água” é a primeira reivindicação registrada na carta. “O problema da falta d'água no Crusp é recorrente. Durante a pandemia, por exemplo, mesmo com a moradia esvaziada, foram inúmeros episódios em que os moradores ficaram sem água em suas casas. Assim, além de soluções emergenciais a curto prazo, exigimos a garantia do fim do problema, o que deve incluir a construção de um sistema de reservatórios que sejam suficientes para garantir o amortecimento das quedas de abastecimento”.
A carta alude ainda à prática da Sabesp de redução da pressão da água, apontada pela própria Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) como uma das principais causas da irregularidade no abastecimento de água do Crusp. Nesse caso, dizem os signatários, “é responsabilidade da Reitoria garantir o direito à água para todos os moradores, executando as reformas necessárias para tornar a rede de distribuição hidráulica capaz de manter o fornecimento adequado”.
Reitoria precisa destinar à moradia “todos os blocos do Crusp, inclusive K e L”, diz carta
Outra reivindicação das entidades é a de que a Reitoria se comprometa com a participação do(a)s moradore(a)s na reforma em curso no Crusp: “Garantia documental de que a reforma de todos os blocos ocorrerá, e que ocorrerá com a participação dos moradores em todos os blocos, por meio de vias acordadas com os moradores. Ou seja, que as demandas construídas em Comitê, composto por moradores e suas entidades, e comunicadas pela Comissão de representantes em contato com a PRIP, ou qualquer outra instância que venha a assumir a pasta, sejam reconhecidas e legitimadas”.
Fotos: Daniel Garcia
Além disso, propõem que as iniciativas da Reitoria, no âmbito da reforma, sejam “previamente comunicadas e decididas em conjunto com os moradores, que serão informados pela Comissão e tomarão suas decisões em assembleia”. O documento reforça essa reivindicação, ao assinalar que “qualquer processo democrático de reforma só será possível mediante o compromisso documental da Reitoria, por meio da PRIP, em garantir que todos os blocos do Conjunto Residencial da USP serão reformados e destinados à moradia estudantil, inclusive os blocos K e L”, e demanda ainda que “o próximo bloco alvo de reforma seja o bloco L, a fim de corrigir a redução de vagas provocada pelo esvaziamento do bloco D”.
Após destacar que o fim da falta de água e a participação do(a)s moradore(a)s do Crusp na reforma já em andamento “são as mais urgentes e necessárias reivindicações”, a carta lembra que a situação do Crusp e da permanência estudantil envolve outras demandas, “que por hora não receberão igual destaque, em vistas de nossa prioridade expressada”.
Mas, como “outras demandas não negligenciáveis e necessárias de serem resolvidas imediatamente por parte da PRIP e da Reitoria”, a carta aponta as seguintes medidas: “reparo imediato de todos os elevadores do Crusp, muitos dos quais seguem há meses sem funcionar; aumento da frota de ônibus circulares nos fins de semana para atender os moradores do Crusp e nos horários de pico dos dias úteis; diminuição das filas dos restaurantes universitários, e a fiscalização do cumprimento dos contratos; fornecimento de janta aos fins de semana para atender a demanda do Crusp; retorno do passe livre no transporte público para moradores do Crusp; políticas mais efetivas na promoção de saúde mental para os moradores”.
As entidades reivindicam igualmente duas importantes providências de natureza financeira: aumento do valor do auxílio-moradia e das bolsas do Programa de Estímulo ao Ensino de Graduação (PEEG) e do Programa Unificado de Bolsas (PUB) para R$ 1 mil mensais, e implementação de um auxílio para estudantes que habitam as moradias estudantis.
Falta de água no Crusp foi tema central da conversa entre Reitoria e manifestantes
Uma comissão de manifestantes — formada por três representantes do DCE-Livre e um da Amorcrusp — foi recebida, durante a manifestação diante da Reitoria, por um grupo ad hoc de representantes da administração, constituído pela pró-reitora Ana Lúcia Duarte Lanna (PRIP), pela prefeita do campus, Raquel Rolnik, e por representantes da Superintendência do Espaço Físico (SEF) e do Gabinete do Reitor.
Os discentes entregaram aos gestores da USP dois documentos: a carta lida no ato e o Manifesto por Permanência Estudantil na USP. A principal questão abordada pelas partes foi a do abastecimento de água no Crusp. “Colocamos algumas reivindicações, e a Reitoria deu algumas respostas sobre o que eles andam fazendo em relação a isso”, relata ao Informativo Adusp o estudante Daniel Lustosa Gomes de Sá Barreto, um dos representantes do DCE-Livre na conversa e morador do bloco A do Crusp.
“Cobramos também que fosse feita uma nota informativa na própria página oficial da USP. O que a gente conquistou nos últimos tempos é que a Reitoria está estruturando a construção de mais reservatórios de água para os blocos F e G do Crusp, que mais sofrem com a falta de água, a perspectiva é dobrar a capacidade atual de armazenamento de água, de 20 mil para 40 mil litros. A gente pediu uma perspectiva de prazo, eles deram prazo de um mês para terminar isso”.
Ainda segundo Daniel, tendo em vista que os novos reservatórios só ficarão prontos depois de um mês os representantes estudantis exigiram medidas imediatas contra a falta de água no decorrer desse período. A comissão da Reitoria informou, então, que o reitor entrou em contato com o presidente da Sabesp em busca de soluções para o problema, e que técnicos da estatal estiveram no Crusp nesta terça para estudar possibilidades de garantir um fornecimento de água com plena pressão (necessária para encher os reservatórios adequadamente) por mais tempo, por exemplo até as 22 horas, e não até as 18 horas como atualmente. Essa solução seria adotada até que terminasse a construção dos novos reservatórios.
“Outra coisa importante [tratada na conversa] foi a questão da Zeladoria”, diz o estudante. “No Crusp, qualquer manutenção necessária a Zeladoria é acionada para resolver: chuveiro queimado, torneira quebrada, isso tudo é a Zeladoria que resolve. Só que tem poucos funcionários e eles não atendem no final de semana. Hoje a PRIP está encaminhando mais contratações para a Zeladoria do Crusp, ou seja: que aumente o quadro de funcionários. E que além disso a gente tenha o atendimento nos finais de semana”.
Embora outros assuntos tenham sido discutidos, Daniel considera que os pontos por ele relatados (reservatórios, Sabesp e Zeladoria) foram os mais importantes: “O principal foram essas três conquistas, mas a gente tem que continuar pressionando para que sejam efetivadas”, enfatiza.
Em ato realizado terça à tarde no saguão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), estudantes contestaram a afirmativa feita no comunicado de 19/9 da PRIP, de que desde 4/9 não ocorre falta de água no Crusp. Consultada a respeito pelo Informativo Adusp, a professora Marie Claire Sekkel, coordenadora da Coordenadoria de Vida no Campus, sustentou a posição da PRIP e afirmou que tem havido “uso político” da situação.
“Será que os funcionários da Zeladoria estão mentindo? Eu confio que dizem a verdade. Ontem alguns moradores tiveram a iniciativa de percorrer todos os blocos do Crusp, em todos os apartamentos que puderam contatar, e não teve nenhum onde estivesse faltando água. Isso foi relatado por um desses moradores para mim hoje de manhã”, declarou Marie Claire.
“Ocorreram alguns problemas pontuais de registros quebrados e coisas assim, que tiveram que ser trocados, mas isso não caracteriza falta de água na moradia”, continuou a coordenadora. “Vocês tem que escutar quem está no Crusp de fato, quem vive lá, porque o uso político da situação do Crusp está incomodando as pessoas que têm procurado soluções. A situação no Crusp é muito precária, e não é de hoje. O abandono vem de longe”.
O Informativo Adusp solicitou à Assessoria de Imprensa da Reitoria considerações a respeito da reunião de 20/9 com a comissão estudantil, que não chegaram até o fechamento desta matéria, mas que uma vez recebidas serão imediatamente publicadas mediante atualização do texto.
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