Saúde
Possível contratação de plano de saúde do Grupo São Francisco causa preocupação e indignação no câmpus de Bauru
20/08/2021 05h09

A eventual contratação do Grupo São Francisco-Hapvida pela Superintendência de Saúde da USP (SAU), para prestar atendimento médico e hospitalar ao(à)s servidore(a)s da universidade no câmpus de Bauru, tem provocado muita preocupação e indignação entre docentes e funcionário(a)s técnico-administrativo(a)s da Faculdade de Odontologia (FOB) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Cranio-Faciais (HRAC).
O Grupo São Francisco-Hapvida, que já responde por esses serviços nos câmpus de Ribeirão Preto e São Carlos da USP, teria sido o vencedor da licitação relacionada ao Edital de Pregão Eletrônico 2/2021 da SAU, processo 2019.1.18439.01.2, que tem por objeto “a contratação de empresa especializada na execução de serviços médicos e complementares, na cidade de Bauru, destinados a servidores da USP (docentes e servidores técnicos e administrativos) e respectivos dependentes, vinculados ao Câmpus Administrativo de Bauru, devidamente cadastrados no Departamento de Assistência à Saúde, da Superintendência de Saúde da USP (DPAS/SAU/USP), pelo período de 12 (doze) meses”.
A modalidade da licitação é por menor preço. O edital estabelece que será vencedora “a empresa que oferecer o maior Percentual Redutor Único” (item 3.2., b) e fixa um valor de referência de R$ 12,261 milhões para a contratação. O Grupo São Francisco teria oferecido uma redução desse valor superior à redução proposta pela Unimed local, que presta esses serviços à USP desde 1985.
Mensagens que circulam na comunidade da USP de Bauru apontam a preferência pela Unimed e deficiências percebidas nos serviços locais do Grupo São Francisco-Hapvida. Além das queixas acumuladas contra os serviços que vêm sendo prestados por esta empresa em Ribeirão Preto e São Carlos, afirma-se que em Bauru ela oferece atendimento para poucas especialidades, pequeno número de locais para exames, somente quatro salas de cirurgia. Uma questão levantada, particularmente sensível, diz respeito a pacientes oncológicos, uma vez que “mudar agora tratamento de oncologia para outra empresa está mexendo emocionalmente com todos servidores”, segundo mensagem que chegou ao conhecimento do Informativo Adusp.
Há uma questão preliminar que parece não ter sido levada em conta pela Reitoria. Em 2019, o Grupo Hapvida comprou o antigo Grupo São Francisco, sediado em Ribeirão Preto, e herdou o contrato que este último mantinha com a USP desde o final dos anos 1990. Ocorre que o Grupo Hapvida vem sendo sistematicamente denunciado por impor aos médicos contratados que prescrevam aos pacientes de Covid-19 (supostos ou confirmados) medicamentos contraindicados para essa doença, tais como hidroxicloroquina e ivermectina, por exemplo.
Embora vinte e cinco proeminentes docentes da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) tenham se manifestado — publicamente e de modo enfático — contra o chamado “kit Covid”, a Reitoria absteve-se de tomar qualquer medida contra o protocolo adotado pela empresa por ela incumbida de prestar atendimento médico a docentes e funcionários da USP de Ribeirão Preto e São Carlos.
O titular da SAU e signatário do Edital 02/2021, Paulo Ramos Margarido (que acumula a superintendência do Hospital Universitário), deslocou-se para Bauru e passou os últimos dias na cidade, com a finalidade de realizar vistorias nas instalações médicas das empresas concorrentes e reunir-se com o diretor da FOB, Carlos Ferreira dos Santos.
A presidenta da Adusp, professora Michele Ramos Schultz, o diretor regional Eliel Orenha e diretores do Sintusp encaminharam ofício a Margarido e a Ferreira, em 16/8, propondo uma reunião sobre o assunto. Em conversa informal na manhã desta quarta-feira (18/8), o superintendente de Saúde alegou que não dispunha de tempo para a reunião solicitada e se disse sensibilizado pelos apelos de docentes e funcionário(a)s, mas pretextou estar limitado pelas regras da lei de licitações.
Mais tarde, nesse mesmo dia, a secretária de Ferreira respondeu ao ofício, a pedido dele, reiterando à Adusp, por e-mail, que a agenda do diretor da FOB “estava sobrecarregada ontem e hoje”, conforme ele comunicou pessoalmente ao professor Orenha e a Ricardo Nogueira, diretor do Sintusp, ao final de reunião que teve com Margarido. “Passaremos ao Prof. Paulo Margarido a nossa disponibilidade de agenda para que possamos agendar a reunião”, completou a secretária.

Também nesta quarta, o Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp) realizou assembleia em Bauru para discutir a questão. O diretor regional da Adusp foi convidado e compareceu, podendo assim constatar o sentimento de incredulidade e assombro do(a)s funcionário(a)s com a falta de precaução da SAU. “Como os gestores podem acreditar na viabilidade de uma alteração de tal abrangência em plena pandemia?”, indagou um dos presentes. Na percepção de quem se manifestou, a gestão da USP demonstrou insensibilidade e assumiu um alto risco.
Caso realmente ocorra a mudança de plano de saúde, o novo sistema, disseram, vai necessitar de um período inicial de adequação e ajustes, justamente num momento em que pesquisadores e lideranças da própria USP alertam para um iminente aumento de casos de Covid-19 no Estado, relacionado à presença da variante Delta.
Tendo em vista uma possível ação judicial contra a licitação, a assembleia solicitou à assessoria jurídica do Sintusp uma avaliação do caso. Assim que estiver disponível, uma nova assembleia será realizada para definir o que fazer.
O Informativo Adusp enviou à Reitoria algumas perguntas sobre o caso. A Assessoria de Imprensa da USP respondeu que, como o processo licitatório ainda está em andamento, “por ora, a Reitoria não se manifestará a respeito”.
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