Fórum das Seis exorta reitores a tomarem posição pública contra relaxamento precoce das medidas de distanciamento social

“Para as universidades públicas paulistas, é uma obrigação irrenunciável alçar, institucionalmente, sua respeitada voz neste momento dramático. Nunca antes a população que sustenta a universidade esteve em um risco de vida tão grande, nem a universidade teve, dada a natureza desse risco, a possibilidade de contribuir para salvar, com a verdade, boa parte dessas vidas”, diz a Carta Aberta ao Cruesp encaminhada nesta quarta-feira (17/6)

“A Unesp, a Unicamp, a USP e o Centro Paula Souza [Ceeteps] não podem ser instituições omissas nessa hora tão grave da pandemia em curso!”. A advertência é do Fórum das Seis, em carta aberta ao Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) divulgada e encaminhada nesta quarta-feira (17/6). Nela, o Fórum das Seis — que articula sindicatos e diretórios centrais de estudantes das três universidades públicas estaduais e do Ceeteps — cobra dos reitores “um posicionamento institucional e público das universidades paulistas diante do gravíssimo risco que a população do estado de São Paulo está correndo com o relaxamento oficial das medidas de isolamento e distanciamento por parte do governo estadual e municipais”.

A carta aberta do Fórum das Seis questiona a “inexplicável abertura de comércio e de serviços não essenciais”, promovida pelo governo Doria e por prefeitos em meio a “um quadro de contínuo e alarmante crescimento de casos de contaminação pelo Sars-CoV-2 e de óbitos pela Covid-19, equiparável com o que em outros países provocou o fechamento quase total de atividades, e com recordes diários que parecem não encontrar um teto”. Lembra que essa atitude é “desaconselhada por todas as lideranças sanitárias do mundo, e oposta às políticas que, também no mundo todo, deram resultado para achatar as curvas de crescimento da pandemia e caminhar efetivamente para uma recuperação também econômica”.

O documento destaca o risco crescente de uma catástrofe social de enormes proporções: “Em vez do aumento de isolamento e distanciamento que seria necessário, vemos uma circulação de pessoas cada vez mais intensa, com meios de transporte lotados, que pode dar como resultado uma tragédia muito maior do que esta que o país já vive hoje, com mais de 45 mil mortos e cerca de um milhão de infectados, e a maior taxa de crescimento no mundo para ambos os índices. No estado de São Paulo, os números indicam em torno de 178 mil casos e 10.700 óbitos”.

ResearchGate
Professora Florência Leonardi (IME)

“É nosso dever alertar a população: ela foi liberada para ir ao abatedouro”

Manifestações de docentes da USP são citadas na carta aberta ao Cruesp: “Não há dados no estado de São Paulo que justifiquem tal relaxamento, pelo contrário: todos os estudos com base científica apontam em sentido oposto, principalmente os que são desenvolvidos nas universidades paulistas e brasileiras. Por exemplo, no Jornal da USP de 3/6/2020 é entrevistada a professora do IME [Instituto de Matemática e Estatística] Florência Leonardi, que apresenta um estudo do Grupo de Pesquisa em Estatística Computacional sobre a evolução do contágio pela Covid-19. A pesquisadora afirma que ‘atualmente há uma tendência crescente e bastante acentuada no número de casos na cidade de São Paulo” e que “isto talvez possa ser atribuído ao relaxamento nas medidas de isolamento e distanciamento social por parte de população’”.

FMRP
Professor Domingos Alves (FMRP)

“No mesmo dia 3/6, apareceram em vários jornais de grande circulação entrevistas com o professor Domingos Alves, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto [FMRP], que coordena o Laboratório de Inteligência em Saúde, alertando que ‘os municípios brasileiros que optarem por reduzir o distanciamento social, ainda nesta semana, podem ter um aumento de 150% no número de infectados e mortos nos próximos dez dias’. Na mesma matéria de O Globo, o pesquisador faz uma dura advertência: ‘Não estamos falando do que vai ocorrer dentro de um ou dois meses, mas de uma semana a dez dias. Até agora, temos acertado nossas projeções e, por isso, estamos tão preocupados. É nosso dever alertar a população de que ela foi liberada para ir ao abatedouro’”.

Ainda segundo a carta aberta, quaisquer que sejam as pressões políticas e econômicas que levam o governo estadual e as prefeituras à atitude “temerária e irresponsável” de relaxar a quarentena, “elas não podem ser assumidas como próprias por uma instituição pública destinada à produção de conhecimento”. Por essa razão, continua, USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza precisam reagir à altura: “Para as universidades públicas paulistas, é uma obrigação irrenunciável, talvez a maior que tenha se apresentado na sua história, alçar, institucionalmente, sua respeitada voz neste momento dramático. Nunca antes a população que sustenta a universidade esteve em um risco de vida tão grande, nem a universidade teve, dada a natureza desse risco, a possibilidade de contribuir para salvar, com a verdade, boa parte dessas vidas”.

O documento cita, ainda, manifestação da Reitoria da Unicamp sobre medicamentos que vêm sendo apresentados pelo presidente Jair Bolsonaro como úteis contra a Covid-19: “Em 9 de abril deste ano, a Reitoria da Unicamp se dirigiu à sociedade toda com uma nota pública sobre uso de substâncias como cloroquina e hidroxicloroquina, e, nessa nota de advertência, expressava que ‘a universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica’. Justamente devido a esse princípio, é indispensável que as três universidades produzam o [quanto] antes possível uma manifestação pública desaconselhando as atuais medidas de relaxamento e advertindo sobre as trágicas consequências que elas podem acarretar, bem como sobre sua inutilidade para a recuperação da atividade econômica”.

 

EXPRESSO ADUSP


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