EAD
A “toque de caixa”, CoG aprova licenciatura a distância
Nos conselhos da USP, a criação de cursos por meio de “educação a distância” parece avançar a passos céleres, pois há previsão de início de cursos já em 2007. O Conselho de Graduação (CoG) aprovou, na sessão de 17/8, o “curso de Graduação de Licenciatura em Ciências por meio de Educação à Distância”, que “visa à formação de professores de Ciências para os 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)”, com o objetivo de “formar um profissional competente, socialmente crítico e responsável pelos destinos de uma sociedade que se deseja justa, democrática e auto-sustentável” (Processo: 2003.1.25993.1.6 – ver Volume I da documentação que subsidiou a sessão do CoG de 17/8).
Segundo a proposta de sua criação, tal curso teria estrutura modular, com “organização curricular centrada em seis grandes temas integradores” e “duração ideal e mínima de 8 semestres e máxima de 16 semestres, necessitando que o aluno cumpra um total de 2.835 horas”. Desse total, a “parte presencial” teria 1.365 horas (48,15%), sendo que apenas 330 horas-aula tratariam de “disciplinas e atividades diretamente relacionadas aos conhecimentos das áreas de Química, Física, Biologia e Matemática”; as 1.470 horas restantes (51,85%) seriam desenvolvidas a distância.
Durante a sessão do CoG de 17/8, a representação discente levantou questionamentos quanto à justificativa e às condições de implementação do curso — na realidade, 4 cursos: “Curso Pólo São Paulo” – 60 vagas, “Curso Pólo Piracicaba” – 30 vagas, “Curso Pólo São Carlos” – 30 vagas, e “Curso Pólo Ribeirão Preto” – 30 vagas. Segundo uma das estudantes presentes, Nathalia Cassetari, do DCE-Livre da USP, não estava clara a razão pela qual a universidade implantaria um curso por meio de “educação à distância”, se a forma de ingresso seguiria sendo a Fuvest.
Adiamento negado
Além disso, Nathalia afirmou que as dúvidas sobre a permanência dos estudantes nos cursos tampouco foram respondidas. “E se o estudante que passou no processo seletivo não tiver computador? A USP vai comprar um para ele?”, explica. Os estudantes solicitaram então que, devido à importância do assunto e às dúvidas pendentes, houvesse mais tempo de discussão e que a votação fosse adiada. O pedido, por sua vez, foi posto em votação e decidiu-se seguir com a apreciação do projeto na mesma sessão. O projeto foi aprovado, com 23 votos favoráveis e 7 abstenções.
A Adusp considera oportuno utilizar técnicas modernas de informação e comunicação no ensino. Mas defende que: 1) em todos os níveis educacionais, os cursos de formação inicial — sobretudo os que formam professores — devem ser necessariamente presenciais; e 2) seja refutada qualquer tentativa de utilização da chamada educação a distância com vistas à emissão de diplomas na educação superior, graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado), bem como a emissão de certificados para os cursos de pós-graduação lato sensu, por entender que a “EaD” não propicia formação humana e profissional, nos termos defendidos historicamente pelo movimento docente (defesas estas que constam da plataforma de lutas do Andes-SN).
A Adusp considera também que o debate não fica restrito à modalidade do curso proposto. Basta mencionar que, em meados da década de 1970, quando recusou implantar as licenciaturas curtas em ciências, a USP manifestou-se contrária ao número reduzido de horas-aula nas disciplinas científicas e à concepção de professor polivalente presentes naquela iniciativa.
Isto posto, ao invés de legitimar apressadamente esse tipo de proposta, a USP deve promover um debate mais aprofundado deste tema polêmico — conforme corretamente solicitado pelos estudantes.
Matéria publicada no Informativo nº 220
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