Democracia na USP
Diretora do IP rejeita acusações de desmando e despotismo
“Repudio o termo criminalização e lamento que a Adusp me traga o constrangimento de tratar deste assunto de forma pública”, diz a professora Emma Otta
A professora Emma Otta, diretora do Instituto de Psicologia da USP (IP), enviou no domingo, 12/6, quando já estava fechada a edição 327 do Informativo Adusp, as respostas às perguntas que lhe enviamos no dia 8/6, a respeito da crise vivida pelo IP. Não dispomos de espaço para publicar integralmente o texto elaborado pela professora, que tem 17.600 caracteres com espaços, o equivalente a quase 3 páginas impressas deste jornal. Por essa razão, selecionamos os trechos mais relevantes. A íntegra está disponível aquirá disponível em www.adusp.org.br.
“Repudio o termo criminalização e lamento que a Adusp me traga o constrangimento de tratar deste assunto de forma pública. Discrição, pudor e respeito deveriam informar a prática jornalística de uma entidade como a Adusp”, diz a diretora do IP, que também contesta as acusações que lhe foram feitas no Ato de Indignação de 7/6, de desmando e depotismo. Ela assegura ainda ter recebido apoio de “grande número de docentes, funcionários e alunos que não compreendem a razão de um Ato de Indignação” e “questionam a motivação” dos organizadores do protesto.
A seguir, publicamos as perguntas encaminhadas pelo Informativo Adusp (em itálico) e as respectivas respostas da professora Emma Otta. Os destaques em itálico negrito em algumas frases das respostas são de autoria da própria diretora.
Catracas
1- Diversos participantes do Ato queixaram-se da falta de diálogo entre a Sra. e a comunidade, bem como da prática de desmandos e despotismo por parte da Diretoria. Por exemplo a instalação de catracas nos blocos, apesar de pesquisa com resultados desfavoráveis à medida; e a abertura de sindicância que envolve professores. Como a Sra. recebe essas críticas?
“A instalação de catracas nos Bloco A, F, G e Biblioteca foi aprovada em outubro de 2010 pela Congregação depois de meses de discussões e debates. Essa decisão conta com o apoio da maioria dos docentes da unidade, o que pode ser atestado por manifestação em consulta individualizada feita pela Direção. Destaco que foi realizada uma mesa redonda sobre segurança no IP (15/9/2010), por iniciativa da Diretoria. Em dezembro, recebi um abaixo-assinado de docentes e funcionários solicitando urgência na implementação dessa medida de segurança e a adoção de medidas adicionais”.
(O abaixo-assinado cita o sequestro relâmpago de uma professora, “de dentro do nosso estacionamento às 10h para saque de dinheiro em bancos”, em 7/12/2010; e “na lanchonete em frente à entrada do Bloco B, às 8h30, o assalto à mão armada” sofrido por uma doutoranda, no dia seguinte. Pede a colocação “de catracas nos diferentes blocos”, “cancelas nos estacionamentos” e “instalação de muro ou cerca para proteção do IP”.)
“Muitos estudantes foram contrários à instalação de catracas, assim como os funcionários do Bloco D. Os demais funcionários manifestaram-se predominantemente a favor da medida. Não serão instaladas catracas nos Blocos B (Didático) e D (Centro de Atendimento Psicológico) por conta do levantamento de opinião. Futuramente, esta instalação poderá vir a ser feita, se os usuários desses blocos solicitarem”.
“Não há unanimidade de opinião em relação à instalação de catracas como medida de segurança no IP, mas a decisão tomada reflete a vontade da maioria. Não é particularmente agradável ler expressões como ‘prática de desmandos e despotismo da Diretoria’”.
Sindicância
“A Diretora do IP abriu uma sindicância considerando a gravidade dos fatos que ocorreram na Unidade: 1) a vida de um funcionário foi colocada em risco, 2) o professor se contrapôs à decisão da Direção de chamar o SAMU [N.R.: a diretora refere-se a docente que é tutor de um aluno que sofre de surtos psicóticos]. Portanto, interferiu impedindo o atendimento médico que era absolutamente necessário naquela situação”.
“É triste registrar que o sofrimento de um estudante seja usado para difundir acusações à diretora. Em respeito ao estudante não vou descrever os detalhes daquele incidente. Quem examinar o assunto e seus desdobramentos, lendo a documentação disponível, verá que as medidas tomadas foram absolutamente necessárias. O docente não tinha o direito de impedir o atendimento médico de emergência”.
“Espero que um problema sério de saúde mental seja tratado de forma ética e não de forma política, com o aval da Adusp. Tenho recebido manifestações de apoio de um grande número de docentes, funcionários e alunos que não compreendem a razão de um Ato de Indignação e o atribuem a um pequeno número de pessoas e questionam a motivação destas pessoas”.
Criminalização
2- Também foi criticado o frequente recorrer à Guarda Universitária e à polícia para tratar do caso do aluno do IP que sofre de surtos psicóticos. A criminalização desse caso não é contraditória com a natureza do IP?
“Além da dimensão de saúde mental, há dimensões acadêmicas, jurídicas e de segurança a ser consideradas. Uma assistente social do IP, com a qual a Direção da Unidade está em contato, está servindo como referência. Essa assistente social foi indicada pela Comissão de Graduação e a escolha referendada pela Diretoria”.
“A tutoria não pode ser realizada, de acordo com parecer da Procuradoria Geral da USP, com o qual a Diretora concorda, por dois motivos: (1) caso seja entendida como atividade didática, não pode ser realizada durante período de trancamento de matrícula; (2) caso seja entendida como atividade terapêutica, não pode ser realizada porque docentes não podem acumular papel de terapeutas e de professores. Embora seja facultado o direito de transitar, não é possível permitir risco à integridade física das pessoas, nem dano ao patrimônio físico”.
“Quando uma situação foge ao controle, é preciso que isto seja reconhecido e que medidas cabíveis sejam tomadas por profissionais, com experiência no tratamento do problema específico. Laissez-faire e falta de assistência devem provocar nossa indignação. Espero que os problemas sejam superados e que o aluno possa voltar a frequentar o curso. Trata-se de um aluno brilhante que tem condições de concluir as disciplinas que lhe faltam para o bacharelado”.
Recursos
3- Qual é a prioridade na aplicação dos recursos da unidade? Há relatos de banheiros sujos e sem manutenção, ao mesmo tempo em que o bloco G tem até aquário.
“Há priorização de aplicação de recursos da Unidade em benefício do coletivo. Tenho recusado sistematicamente o atendimento de solicitações que atendem a interesses individuais. Não são financiadas viagens para o exterior, seja de docentes, seja de funcionários, para as quais podem ser obtidos recursos de agências de fomento. Os recursos são usados prioritariamente para manutenção dos nossos prédios”.
“Hoje temos três aquários em três prédios, com peixes ornamentais resistentes e de baixo custo, que são cuidados, voluntariamente, em seus intervalos, por alguns funcionários que gostam desta atividade e não a consideram desvio de função. A condenação dos aquários como desmando administrativo é uma surpresa para mim”.
Informativo nº 328
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