Um grupo de docentes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) assinou e publicou nesta segunda-feira (26/6) uma “carta aberta em apoio às demandas das e dos estudantes” daquela unidade, que desde a semana passada ocupam as instalações do chamado câmpus leste da USP. O documento lembra que a EACH abriga 11 cursos de graduação, 11 cursos de pós-graduação e a Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), e atende cerca de 6 mil alunas(os), recebendo anualmente mais de 1 mil estudantes.

“Enfrentamos não apenas o desafio comum colocado para várias unidades da USP de falta de reposição de vagas decorrente de aposentadorias e falecimentos, mas também a falta constante de professora(e)s. Desde a sua criação, a EACH nunca teve um quadro completo e, em vários cursos, incluindo o Ciclo Básico, há escassez de docentes. Além disso, sofremos com a falta de funcionária(o)s e infraestrutura inadequada”, afirma a carta aberta.

“Para uma unidade do tamanho da EACH, com o nosso histórico, a contratação de 15 docentes e o número atual de bolsas anunciados não são suficientes”, adverte o documento. “Nesse contexto, é importante ressaltar que reconhecemos os esforços para contratação de docentes em toda a USP, assim como a criação da PRIP (Pró Reitoria de Inclusão e Pertencimento) e do PAPFE (Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil). É indiscutível a importância de ter um programa abrangente de auxílio e a reposição de cargos docentes, mas isso não significa necessariamente que atenda às necessidades. No caso das bolsas do PAPFE, é evidente a falta de recursos da PRIP, não apenas para expandir o programa, mas também para realizar ações nas áreas propostas, como saúde mental, raça, gênero, pessoas com deficiência e direitos humanos, entre outras”.

A inclusão de estudantes negra(o)s e pobres, a criação de novos cursos e a implantação de uma universidade na periferia exigem mudanças substanciais na USP, diz a carta aberta. “Isso inclui repensar os paradigmas conceituais enraizados na branquitude, heterocisnormatividade, misoginia e elitismo de classe, além de reconhecer que são necessários maiores investimentos e espaços colegiados mais democráticos”.

Por fim, o grupo propõe “que a(o)s estudantes sejam ouvida(o)s e que suas demandas sejam atendidas, pois reconhecemos a necessidade e a importância do que estão pleiteando”.

Íntegra do documento

Carta aberta de docentes da EACH-USP em apoio às demandas das e dos estudantes

Prezada comunidade acadêmica,

Nós, docentes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), registramos nosso apoio às demandas da(o)s estudantes que estão se manifestando desde a semana passada. Compreendemos e compartilhamos as demandas apresentadas, que incluem a contratação de mais professora(e)s e a ampliação das bolsas de auxílio permanência.

A EACH abriga 11 cursos de graduação, 11 cursos de pós-graduação e a Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), atendendo a aproximadamente 6000 aluna(o)s, com uma entrada anual de mais de 1000 estudantes. Enfrentamos não apenas o desafio comum colocado para várias unidades da USP de falta de reposição de vagas decorrente de aposentadorias e falecimentos, mas também a falta constante de professora(e)s. Desde a sua criação, a EACH nunca teve um quadro completo e, em vários cursos, incluindo o Ciclo Básico, há escassez de docentes. Além disso, sofremos com a falta de funcionária(o)s e infraestrutura inadequada.

Também somos uma das unidades da USP com o maior número de estudantes autodeclarados PPI (pretos, pardos e indígenas). É importante considerar que somos uma unidade localizada na periferia, com um grande contingente de estudantes negra(o)s e pobres. Para uma unidade do tamanho da EACH, com o nosso histórico, a contratação de 15 docentes e o número atual de bolsas anunciados não são suficientes.

Nesse contexto, é importante ressaltar que reconhecemos os esforços para contratação de docentes em toda a USP, assim como a criação da PRIP (Pró Reitoria de Inclusão e Pertencimento) e do PAPFE (Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil). É indiscutível a importância de ter um programa abrangente de auxílio e a reposição de cargos docentes, mas isso não significa necessariamente que atenda às necessidades. No caso das bolsas do PAPFE, é evidente a falta de recursos da PRIP, não apenas para expandir o programa, mas também para realizar ações nas áreas propostas, como saúde mental, raça, gênero, pessoas com deficiência e direitos humanos, entre outras.

Reconhecemos que as políticas são aprimoradas e implementadas gradualmente, mas acreditamos que, para que toda a USP alcance a qualidade desejada, é necessário buscar uma maior equidade. A inclusão de estudantes negra(o)s e pobres, a criação de novos cursos e a implantação de uma universidade na periferia exigem mudanças substanciais na USP. Isso inclui repensar os paradigmas conceituais enraizados na branquitude, heterocisnormatividade, misoginia e elitismo de classe, além de reconhecer que são necessários maiores investimentos e espaços colegiados mais democráticos para proporcionar condições equitativas, ampliando a participação de estudantes, funcionária(o)s e docentes.

Assim, esperamos que a(o)s estudantes sejam ouvida(o)s e que suas demandas sejam atendidas, pois reconhecemos a necessidade e a importância do que estão pleiteando.

São Paulo, 26 de junho de 2023.

EXPRESSO ADUSP


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