Carlotti se compromete a discutir problemas da EACH com estudantes da unidade, que desde a última terça-feira (20/6) ocupam câmpus da USP Leste
Após ocupação na EACH, Reitoria recebeu estudantes

Uma comissão de dez estudantes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) entregou ao reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr. nesta sexta-feira (23/6) uma carta aberta que sintetiza algumas das reivindicações contidas num manifesto lançado pelo(a)s aluno(a)s que desde a última terça-feira (20/6) ocupam a unidade, na USP Leste.

A reunião foi realizada na Faculdade de Direito, no Centro de São Paulo, onde Carlotti e outro(a)s integrantes da gestão participaram de encontro da série “Reitoria no Campus”. Inicialmente o(a)s dirigentes expuseram algumas iniciativas da administração e falaram sobre entraves burocráticos envolvendo contratação de docentes e sobre os critérios para a concessão do auxílio-permanência.

A seguir, o(a)s estudantes relataram os problemas enfrentados com a falta de docentes, especialmente nos cursos de Obstetrícia, Gerontologia e Gestão Ambiental, além dos prejuízos causados à EACH com o novo desenho do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE).

Ao final da reunião, Carlotti aceitou gravar um vídeo comprometendo-se a promover novos encontros com o(a)s estudantes para tratar dos problemas da EACH. “Em reunião prévia aqui, eu já conversei com os alunos, recebi esse documento e me comprometi que na próxima semana nós faremos algumas reuniões para discutir a questão da EACH, questões que nós podemos resolver a curto prazo, a médio prazo, a longo prazo, para que nós possamos ter uma melhoria, uma melhor qualidade de formação na EACH. Esse é o compromisso que eu assumi com vocês nessa reunião e que será cumprido pela Reitoria”, disse o reitor.

Manifesto reivindica permanência “justa e inclusiva” e “imediata contratação de docentes”

Diferentes atividades têm sido organizadas diariamente na ocupação para mobilizar a comunidade da EACH e pressionar a Reitoria, a Diretoria da unidade e a Prefeitura do Campus Área Capital-Leste (PUSP-CL) a atender às reivindicações do(a)s estudantes, que se concentram em duas áreas principais, conforme aponta o Manifesto – Luta Eachiana: “permanência estudantil justa e inclusiva” e “imediata contratação permanente de docentes e funcionários”.

Estudantes criticam postura da PRIP

Em relação à permanência estudantil, o(a)s aluno(a)s reivindicam a “efetivação da bolsa dos alunos que tiveram recurso deferido – conforme a lista divulgada no site oficial da PRIP [Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento] e o parecer favorável da assistência social da EACH referendado pela comissão da PRIP, de acordo com o edital”. O manifesto ressalta que, “para a divulgação oficial no site, o parecer é, primeiramente, referendado pela PRIP, não podendo ser ‘reavaliado’ à revelia, infringindo o próprio edital”.

O manifesto reivindica também a “efetivação imediata para alunos que foram contemplados pela bolsa PAPFE [Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil] que tiveram sua bolsa revogada sem justificativa”. O(a)s estudantes querem ainda a efetivação da bolsa naqueles casos em que houve erros reconhecidos pela assistência social que ainda não foram corrigidos.

De acordo com o manifesto, o edital do PAPFE de 2023 “é uma completa decepção para os alunos que dependem desesperadamente dos auxílios e bolsas para sua sobrevivência acadêmica”. Muito(a)s aluno(a)s foram colocado(a)s numa “lista de espera que não forneceu qualquer informação sobre o motivo ou a classificação”, enquanto outro(a)s “tiveram seus pedidos de auxílio rejeitados sem qualquer explicação, mesmo quando solicitada”.

O novo PAPFE extinguiu o auxílio-manutenção de R$ 250, exclusivo da EACH. A PRIP “justifica essa mudança com o pressuposto de manter a igualdade entre os campi”. No entanto, prossegue o manifesto, “sabemos que a nossa realidade é bem diferente: possuímos maior vulnerabilidade socioeconômica em relação às demais Unidades da USP; não temos moradia estudantil; não temos creche à disposição dos estudantes; não temos infraestrutura acadêmica apropriada às necessidades dos cursos, como laboratórios específicos e salas de estudo; não temos uma vivência estudantil confortável e adequada à dimensão do nosso corpo discente – nosso único C.A. é cuidado por um coletivo independente de estudantes que sofre sem recursos para lidar com grandes problemas de infraestrutura – nem sequer os Centros e Diretórios Acadêmicos possuem salas exclusivas para atenderem as demandas internas dos cursos (à exceção do Diretório Acadêmico de Sistemas de Informação, apenas um dos onze cursos existentes no câmpus); dentre outras inúmeras disparidades em relação aos outros campi da USP, em especial aos da capital”.

Conclusão dos cursos pode ser atrasada por falta de docentes

O segundo ponto do manifesto cobra “comprometimento com a contratação emergencial e integral do quadro completo de docentes efetivos ou concursados por meio de documento oficial pela Comissão de Claros Docentes publicado no site oficial e e-mail institucional”, além de apresentação de “uma proposta de cronograma para essas contratações” e “retorno da contratação automática de docentes (e não por mérito), assim como ocorria até 2014”.

O(a)s estudantes apontam que “nosso câmpus vive sob a ameaça do atraso do currículo de cursos como Obstetrícia pela insuficiência de docentes, pois já era reconhecido que diversos professores se ausentariam de suas respectivas funções, mas não houve planejamento prévio para preenchimento de tais vagas”. Em consequência, “diversos estudantes que batalharam para ingressar na USP podem não receber seus diplomas”.

Salas e corredores foram obstruídos

Em relação à contratação de docentes para o curso de Gestão Ambiental, o “processo foi lento e negligente, prejudicando o andamento dos semestres letivos e da graduação dos discentes, devido à irresponsabilidade e omissão por parte da Reitoria”.

“Dentre os professores remanescentes, muitos estão oferecendo disciplinas fora de sua especialidade e outros estão sobrecarregados pelo acúmulo de atividades exercidas”, prossegue o manifesto. “Ademais, devido à pandemia, o curso de Obstetrícia está com 1 ano de atraso na formação dos estudantes, o que [se] reflete também na permanência estudantil e evidencia a necessidade de medidas para que isso possa ser resolvido – tendo em vista que o problema persiste, dada a falta de professores em disciplinas essenciais para a formação desses estudantes.”

“Somos historicamente negligenciados”, aponta manifesto

O manifesto aponta que o(a)s estudantes da USP Leste não estão sendo ouvidos e tampouco têm as suas demandas atendidas pela Reitoria e pró-reitorias da USP. “Somos historicamente negligenciados e não aceitamos mais esse descaso. Estamos correndo risco de não nos formarmos, seja por falta de professores ou pela insuficiência do auxílio do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil – PAPFE 2023. É revoltante que a Universidade, que ostenta o título de maior Universidade PÚBLICA da América Latina, trate seu único câmpus periférico dessa forma – o câmpus com maior entrada de estudantes pretos, pardos e oriundos de escolas públicas de toda a USP”, registra o texto.

“Acima de tudo, somos EACH e EACH também é USP: merecemos respeito!”, conclui o manifesto, conclamando a comunidade a se juntar à mobilização.

Na última sexta-feira (16/6), Carlotti interrompeu uma reunião da série “Reitoria no Campus” na EACH, sob a alegação de que haveria ameaça de “invasão” do auditório, na avaliação da equipe de segurança. O reitor tentou deixar a unidade, mas foi impedido pela manifestação do(a)s estudantes e após uma longa negociação acabou concordando em voltar ao auditório e conversar com o corpo discente.

Porém, numa manifestação de pouco mais de 20 minutos, Carlotti não respondeu diretamente às questões sobre a falta de docentes nos cursos da unidade nem sobre o PAPFE. A mobilização e a pressão do(a)s estudantes finalmente farão a Reitoria discutir os problemas da EACH com aquele(a)s mais diretamente afetado(a)s por eles.

Em nota enviada à comunidade da EACH no final da tarde desta sexta-feira, o diretor e a vice-diretora da unidade, Ricardo Uvinha e Fabiana Evangelista, informam que mediaram “a realização de uma reunião formal da Reitoria com a Direção da EACH e representantes dos estudantes” na próxima terça-feira (27/6), às 9h, no gabinete da vice-reitora.

“Seguimos assim em constante diálogo com os estudantes e contamos com o encerramento da paralisação para que as atividades acadêmicas sejam retomadas o quanto antes”, conclui o comunicado.

EXPRESSO ADUSP


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