Mobilização de estudantes da EACH leva Carlotti a ouvir reivindicações depois de tentar “fugir” do campus – mas reitor não se compromete a resolver escassez de bolsas PAPFE e falta de docentes
Estudantes convenceram reitor a dialogar

O reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr., a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda e outros integrantes da administração da USP que visitavam a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) na fria manhã desta sexta-feira (16/6), como parte do programa “Reitoria no Campus”, tiveram uma recepção “quente” organizada por estudantes.

A cúpula da gestão reitoral foi cobrada por alunos e alunas a responder sobre as políticas de permanência estudantil, especialmente quanto à quantidade de bolsas concedidas pelo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) e ao valor dos auxílios.

Mobilização incluiu piquetes nos acessos do auditório

Ao saber que o reitor visitaria o campus, o(a)s estudantes se organizaram por meio do comitê independente de luta da EACH e tentaram entrar no local da reunião, sem sucesso. O(a)s estudantes deliberaram então por fazer piquetes, obstruindo as entradas do auditório com cadeiras e ocupando as saídas, uma vez que não aceitariam “a falta de comunicação da Reitoria conosco”, relatou ao Informativo Adusp o estudante Theo Garcia, aluno de Gestão de Políticas Públicas e representante da Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas (Fenecap).

A Guarda Universitária chegou a sugerir que o(a)s representantes da Reitoria deixassem a EACH pelos fundos, mas Carlotti quis sair pela frente. No entanto, o reitor e o(a)s demais integrantes da gestão foram impedidos de avançar pela manifestação do(a)s estudantes. O(a)s aluno(a)s entoavam palavras de ordem como “Ei, Carlotti, chega de calote” e “Ei, reitor, cadê meu professor?” – referência à falta de docentes nos cursos de Obstetrícia e Gerontologia.

Após mais de uma hora de negociações, Carlotti retornou ao auditório para conversar com o corpo discente. O(a)s estudantes fizeram uma explanação de 30 minutos sobre os problemas da unidade e passaram a palavra ao reitor.

Numa manifestação de pouco mais de 20 minutos, Carlotti não respondeu diretamente às demandas sobre a falta de docentes nos cursos da unidade nem sobre a redução de auxílios específicos a estudantes da EACH com as mudanças no PAPFE.

O reitor iniciou sua fala dizendo que, nas visitas que têm sido realizadas aos campi, a primeira parte é reservada a discutir assuntos administrativos com o(a)s dirigentes, enquanto a segunda é aberta a questões de estudantes, docentes e funcionário(a)s.

“Por que eu parei? Porque chegou a mim a informação [dada pela equipe de segurança] de que havia uma ameaça de invasão da sala”, disse, recebendo vaias e contestações do(a)s estudantes.

Em relação às contratações de professore(a)s, Carlotti não se referiu à situação de cursos como Obstetrícia e Gerontologia, limitando-se a repisar os dados sobre o preenchimento de 876 claros docentes até o final da gestão e dizendo que “a distribuição interna das vagas é feita pela unidade”.

Quanto às mudanças no PAPFE, Carlotti afirmou que elas foram feitas “com as melhores intenções” e que as verbas para permanência estudantil são a alínea com maior aumento no orçamento da USP de 2022 para 2023.

Ressaltou também que a universidade está buscando financiamento de “outras fontes” para conceder mais bolsas, como os chamados endowments de ex-aluno(a)s e novas modalidades em convênio com o governo do Estado.

“Eu apresentei números para vocês, apresentei a política. Na reunião já estava programado para ouvir vocês. O comprometimento da Reitoria com a EACH é mantido”, disse, ao encaminhar o final de sua manifestação. “Acho que cumpri o meu acordo com vocês. Estamos dentro do combinado, vamos continuar conversando, a universidade vai continuar estabelecendo o diálogo. Espero voltar em breve aqui e poder fazer a reunião como tínhamos combinado.”

“O dia terminou com o reitor indo embora após fazer a defesa da universidade, sem assumir abertamente nenhum compromisso conosco”, avalia Theo Garcia.

Mobilização decorre da crise vivida pelo(a)s aluno(a)s da EACH

A manifestação desta sexta é desdobramento de uma mobilização de estudantes da EACH motivada por uma crise que atinge a unidade. Por conta da reformulação do PAPFE e da retirada de subsídios destinados especificamente à EACH, o número de aluno(a)s da unidade que recebem o auxílio caiu de 2022 para 2023.

No último dia 5/6, o Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais “Ísis Dias de Oliveira” (Ceupes), entidade estudantil do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), divulgou carta na qual denuncia que, de um total de 17.339 inscrições na graduação para o recebimento de auxílios na USP, “apenas 11.611 tiveram seus resultados entregues”, o que representa uma indefinição quanto a 33% das inscrições. Muitos estudantes da EACH estão entre o(a)s que ainda não sabem se receberão as bolsas.

Estudantes lotaram auditório da EACH

Há outros problemas que afetam a unidade. No curso de Gestão de Políticas Públicas, foram cortadas as viagens técnicas opcionais. Nos cursos de Obstetrícia e de Gerontologia, a falta de docentes prejudica a realização de estágios e ameaça a conclusão da graduação no tempo ideal. Assim, o(a)s estudantes que forem obrigado(a)s a permanecer mais tempo na graduação podem também ter a concessão do PAPFE cortada.

A falta de docentes, fruto de políticas de sucessivas gestões reitorais, é uma realidade que prejudica outros cursos da USP, como aponta nota divulgada pela Diretoria da Adusp na última quarta-feira (14/6).

Questões como essas afetam a vida concreta da comunidade, mas pouco ocupam a pauta de uma Reitoria que parece muito encantada com o próprio discurso. O contato com as demandas urgentes do(a)s estudantes pode funcionar como um chamado a descer ao mundo real.

EXPRESSO ADUSP


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