Orçamento
Fórum das Seis vai propor emenda contra corte de 30% da verba da Fapesp no orçamento de 2021
Projeto da Lei Orçamentária encaminhado pelo governo Doria à Alesp aplica desvinculação de receita na fundação, com base na Emenda Constitucional 93. Na avaliação do professor Paulo César Centoducatte, coordenador do Fórum das Seis, a medida é uma retaliação pelo confisco de recursos ter sido excluído do PL 529. STF já decidiu pela inconstitucionalidade em caso envolvendo o governo do Rio de Janeiro e a Faperj
O Fórum das Seis vai encaminhar aos deputados estaduais uma proposta de emenda à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 para suprimir o corte de R$ 454,68 milhões do orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O corte está previsto no Anexo IX do projeto de lei 627/2020, enviado pelo governador João Doria à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e se apoia na Desvinculação das Receitas do Estado e dos Municípios (DREM), possibilitada pela Emenda Constitucional (EC) 93/2016, aprovada pelo Congresso Nacional. A DREM prevê a utilização livre de 30% das receitas relativas a impostos, taxas e multas pelos governos estaduais e municipais, excluídas as áreas da saúde e da educação.
Se consumada, a retirada de recursos fará com que o orçamento da Fapesp para 2021 caia de cerca de R$ 1,5 bilhão para pouco mais de R$ 1 bilhão.
“Na minha avaliação, isso é uma retaliação pelo fato dele [Doria] ter sido obrigado a excluir o confisco de recursos da Fapesp e das universidades do PL 529”, considera o professor Paulo César Centoducatte, integrante da Diretoria da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp) e coordenador do Fórum das Seis. “O valor que o governo está retirando com a desvinculação é mais ou menos o que estava previsto naquele projeto.”
Centoducatte acredita que o governo não se valeu da DREM para diminuir os recursos das universidades estaduais porque o texto da EC 93 proíbe cortes na educação e na saúde. “Como a receita da Fapesp não é carimbada como educação, ele tenta aplicar nela a DREM. O orçamento da Fapesp é o único lugar da LOA inteira em que é feita essa desvinculação”, enfatiza.
Desvinculação é “tragédia anunciada”, considera Chaimovich
Em artigo intitulado “Desvincular recursos da Fapesp é uma tragédia anunciada”, publicado pelo Jornal da USP, Hernan Chaimovich, Professor Emérito do Instituto de Química da USP e ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), afirma que “o resultado dessa redução se faria sentir em todas as entidades, públicas e privadas, que fazem pesquisa no Estado de São Paulo”.
Na avaliação do professor, “este desastre claramente mostra a falta de reconhecimento que o Estado tem, ainda enfrentando uma crise, de manter prioridades claras” e “prenuncia o descalabro da pesquisa que conduziu, até agora, a impactos intelectuais, sociais e econômicos no Estado de São Paulo”.
O texto do PL 627 não deixa claro se a desvinculação vai se tornar permanente, mas essa é uma possibilidade, alerta Chaimovich. O professor cita também uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou inconstitucional a aplicação da DREM pelo governo do Estado do Rio de Janeiro em relação à Faperj.
No decreto nº 45.874, publicado em dezembro de 2016, o então governador Luiz Fernando de Souza, o “Pezão”, aplicou a DREM retroativamente, com base na EC 93, para reduzir os repasses a vários órgãos públicos do Estado. Em março deste ano, decisão da primeira turma do STF, tendo o ministro Alexandre de Moraes como relator, decidiu que a desvinculação de receita orçamentária da Faperj era inconstitucional.
No caso paulista, argumenta Chaimovich, se o governo conseguir aprovar a desvinculação, vários efeitos já seriam sentidos com a diminuição dos aportes antes que uma decisão semelhante viesse a ser proferida pela Justiça. “As universidades, claro, seriam as mais afetadas”, afirma, “pois, apesar de contar com recursos federais, a grande porcentagem dos recursos para bolsas e para pesquisa das universidades no Estado de São Paulo provém hoje da Fapesp. Assim, é provável que nenhum novo projeto e nenhuma nova bolsa possam ser implementados no ano que vem”.
Universidades públicas realizam manifestação contra a proposta
De forma semelhante ao que ocorreu na tramitação do PL 529, a comunidade acadêmica tem se mobilizado para combater a nova ameça de corte de verbas para a Fapesp. A Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) lançou um abaixo-assinado pela internet contra o corte. De acordo com o texto, a redução dos recursos “levaria a uma forte paralisação de investimentos em novos projetos, além de ameaçar os contratos já assinados”.
Nesta sexta-feira (23/10), às 13h, por iniciativa da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP, professores das universidades públicas estaduais e federais de São Paulo realizam um webinar de apoio à Fapesp e contra a desvinculação de recursos.
Entre os participantes estarão os professores Carlos Frederico de Oliveira Graeff, pró-reitor de Pesquisa da Unesp; Munir Salomão Skaf, pró-reitor de Pesquisa da Unicamp; Audrey Borghi e Silva, pró-reitora de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Soraya Soubhi Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Charles Morphy Dias dos Santos, pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade Federal do ABC (UFABC); e Mayana Zatz, da USP. O encontro terá transmissão pelo YouTube.
Proposta de emendas na LOA 2021 – Fórum das Seis
1) Emenda em relação à renúncia fiscal
3) Emenda supressiva (Fapesp)
4) Emendas destinadas ao Centro Paula Souza (Ceeteps)
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