Representação
Ato Público contra massacre no Líbano e Palestina reúne centenas na entrada do anfiteatro Camargo Guarnieri

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Público teve que assistir ao Ato do lado de fora do anfiteatro. Integrantes da mesa (abaixo) dirigiram críticas ao entrave imposto ao debate e à livre-expressão na USP |
Garantido no improviso, mas não cancelado. Apesar de a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão haver retirado a autorização para uso do Anfiteatro Camargo Guarnieri, o Ato Público Contra o Massacre na Palestina e no Líbano foi realizado na tarde do dia 9/8 na entrada do prédio, com a presença de um público expressivo e da maioria dos oradores convidados. Cerca de 500 pessoas tiveram que se acomodar na rampa de acesso ao anfiteatro, ao passo que os convidados decidiam entre si quem faria uso das cadeiras de metal, insuficientes para os vários professores que fariam uso da palavra.
Integraram a mesa Zilda Iokoy, Mamede Mustafá Jarouche, Renato Queiroz, Leonel Itaussu, Armen Mamigonian e Aziz Ab’Saber, professores da FFLCH; Francisco Miraglia, professor do IME, representante da Adusp; Khaled Ghoubar, professor da FAU; Magno de Carvalho, representante do Sintusp; Frederico D’Ávila, representante do DCE; o deputado federal Ivan Valente (PSOL); e Dirceu Travassos, do Comitê de Solidariedade aos Povos Árabes.
O professor Osvaldo Coggiola, da FFLCH, coordenador do ato, relatou aos presentes que a desautorização do uso do anfiteatro havia chegado em ofício na noite anterior, com uma “desculpa qualquer”, mas que havia informações de pressões externas sobre a Reitoria. Coggiola qualificou a atitude da administração como um “atentado à autonomia universitária”. Para o professor, a reflexão sobre o que acontece no Oriente Médio se faz absolutamente obrigatória dentro da USP: “Este ato deveria ter sido convocado oficialmente pela universidade”.
A proibição do uso do anfiteatro foi comunicada a Coggiola pelo ofício PRCEU 269/2006, de 7 de agosto. Nesse documento o professor Sedi Hirano, pró-reitor de Cultura e Extensão, cancela o agendamento alegando que a autorização implica “compartilhar das responsabilidades de preservar a integridade física das pessoas e do patrimônio da Universidade ali alocado”.
Desumanização
A crítica à indiferença da USP diante dos acontecimentos geopolíticos permeou todas as falas. No caso dos conflitos no Oriente Médio, essa indiferença seria ainda mais profunda, segundo o professor Jarouche, do Departamento de Letras Orientais. Ele aponta como exemplo dessa ignorância sistêmica a ausência de especialistas em história dos povos árabes, bem como em filosofia árabe, além da resistência em integrar as disciplinas de Árabe ao ciclo básico do curso de Letras. “É uma maneira de dizer ‘essa cultura não vale nada’; isso contribui com a desumanização do ‘outro’”, reiterou.
Se a maioria dos que falaram fez a distinção entre o povo judeu e o Estado israelense, as críticas ao segundo foram unânimes na condenação ao militarismo, ao apoio dos EUA, aos interesses das grandes corporações pelos recursos da região. “Terrorismo de Estado, não tem outro nome”, afirmou Ivan Valente, referindo-se à ofensiva de Israel contra os países vizinhos. “É preciso substituir a guerra pelo diálogo agora!”, clamou o professor Miraglia, após ler Manifesto pelos Direitos Sociais e pela Convivência Internacional Pacífica.
O professor Aziz Ab’Saber finalizou o ato com uma descrição minuciosa e emocionada das paisagens naturais do Líbano, lamentando a violência contra o país e a impossibilidade de dois povos “conviverem no campo das idéias”.
Representantes de entidades da sociedade civil presentes ao ato — Copal, Fearab, Apropuc e outras — receberam com surpresa a notícia da proibição de uso do anfiteatro. Pensavam ser a universidade pública um espaço de livre debate de idéias.
Materia publicada no Informativo nº 219
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