Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo estadual, alterou o Estatuto do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), empresa pública vinculada à pasta que ele chefia, para criar um colegiado denominado “Conselho de Orientação”, a ser presidido pelo próprio Agopyan. Porém, antes mesmo de registradas as alterações na Junta Comercial (Jucesp), ele deu início às nomeações de integrantes do conselho, entre os quais o banqueiro Roberto Balls Sallouti, principal executivo (“CEO”) e um dos sócios controladores do BTG Pactual.

Caso receba o aval do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a nomeação de Sallouti representará explícito conflito de interesses, uma vez que uma organização vinculada ao BTG Pactual, o Instituto Brasileiro de Tecnologia e Ciência da Computação (IBTCC), conhecido pelo nome fantasia “Faculdade Inteli”, é beneficiária de um generoso contrato com o IPT, válido por 15 anos, sigiloso e realizado com dispensa de licitação pelo governo João Doria-Rodrigo Garcia, em 2021.

Saloutti foi quem recebeu de Patricia Ellen, então secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, o convite para instalar a Faculdade Inteli, privada, no câmpus do IPT, público, em circunstâncias características de uma “ação entre amigos”. Ele compartilha a liderança do BTG Pactual e da Faculdade Inteli-IBTCC com André Esteves, um entusiasta das privatizações tal como o governador. Em 2024 o BTG Pactual amealhou lucro líquido de R$ 12,3 bilhões, assumindo assim a quarta colocação nesse quesito entre os bancos privados em atuação no Brasil.

A manobra de Vahan foi articulada com o presidente do IPT, Anderson Ribeiro Correia, mas não foi submetida ao Conselho de Administração do IPT, como seria de se esperar. As atas de reunião da Diretoria Executiva do instituto deixaram de ser publicadas.

O site do IPT já menciona o “Conselho de Orientação” como um dos colegiados que compõem a administração do instituto, ao lado do Conselho de Administração, do Conselho Fiscal e da Diretoria Executiva. Mas ainda não há nomes, apenas a seguinte explicação: “Membros a serem indicados pelo Governo do Estado de São Paulo”.

No Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), tramitam dois processos decorrentes de representação do Ministério Público de Contas, apresentada em 2023, “para a apuração de possíveis ocorrências de irregularidades na parceria celebrada entre o IPT e o Instituto Brasileiro de Tecnologia e Ciência da Computação – IBTCC (Faculdade Inteli), para instalação de faculdade privada na sede da estatal”. No último despacho, datado de 14 de maio último, o conselheiro Sidney Beraldo deferiu pedido do IPT de prorrogação, por 15 dias úteis, contados da data de publicação, do prazo para apresentação “das justificativas que entenderem pertinentes”.

Na prática, a pretexto de vir a integrar o programa “IPT Open Experience”, o IBTCC de Esteves se apoderou de expressiva parcela de território do instituto público para instalar a Faculdade Inteli e dar início às aulas. A organização privada dispõe até de entrada própria, pintada com a logomarca da Faculdade Inteli. Em maio de 2024, no entanto, ela devia ao IPT a quantia de R$ 30.686,61 referente ao pagamento de março do contrato.

EXPRESSO ADUSP


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