O Conselho Universitário da USP aprovou nesta terça-feira (19/3) o projeto de criação da Faculdade de Medicina de Bauru (FMBru), por 94 votos favoráveis, com oito votos contrários e sete abstenções. A adesão das representações discentes da graduação e da pós-graduação foi expressiva, uma vez que ambas as bancadas somaram nove votos a favor — seis RDs não compareceram ou não votaram, de um total de 15. O quórum para aprovação de novas unidades é de dois terços, ou 80 votos.

Votaram contra a criação da FMBru a diretora da Escola de Enfermagem (EE), Vilanice Alves de Araújo Püschel, e a representante da Congregação, Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos; representantes das congregações da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), Débora Falleiros de Mello; da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Mary Anne Junqueira; da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Fernando Luís Consoli; do Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC), Kalinka Regina Lucas Jaquie Castelo Branco; e os representantes das categorias de professor doutor, Daniel Cordeiro, e professor associado, Rodrigo Bissacot.

Reinaldo Santos de Souza (que criticou diversas inconsistências do projeto), Barbara della Torre e Samuel Ribeiro Filipini, representantes dos funcionários técnicos(as)-administrativos(as) (e diretores do Sintusp), abstiveram-se, assim como os representantes das congregações da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Cláudia Lago; do Instituto Oceanográfico (IO), César de Castro Martins; do Instituto de Física (IF), Ivone Freire Mota de Albuquerque; e Gilberto Fernando Fisch, representante suplente dos antigos alunos.

Os representantes discentes, ligados ao Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme”), alegaram que votariam favoravelmente à criação da FMBru para atender à “demanda” dos alunos e alunas de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), que apoiam o projeto da nova unidade com o intuito de superar as precariedades enfrentadas atualmente pelo curso, que conta hoje apenas com vinte docentes.

As manifestações mais fortes e estruturadas contra o projeto partiram da representante da Congregação da EE e do representante dos professores doutores, que começou citando testemunho de uma professora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), de que docentes “são obrigados a dar de 16 horas a 24 horas de aulas semanais para suprir a falta de docentes do curso, que nunca atingiu o número de docentes previstos mesmo após vinte anos da criação”, e apontou outros exemplos de precariedade.

“Testemunhamos muitos casos parecidos nos últimos anos. Me vem à memória de imediato as manifestações dos alunos do curso de Obstetrícia da EACH [Escola de Artes, Ciências e Humanidades] em nossa porta por falta de professores, a fala do representante da congregação da Escola de Engenharia de Lorena à ocasião da distribuição recente de claros, apontando que o número de claros era claramente insuficiente, e as notícias sobre os cursos inviabilizados por falta de professores na FFLCH”, destacou Cordeiro.

“As discussões sobre a distribuição de claros deixaram claro que muitos cursos existentes estão com problemas. A distribuição desses claros mitigou parte dos problemas, mas ainda hoje temos cursos com problemas”, afirmou. “Há quinze, vinte anos a USP adotou uma política de expansão, criando novas unidades que hoje enfrentam problemas de falta de docentes e funcionários. Estamos analisando a criação de uma nova unidade, que se vê obrigada a propor uma implantação que não é a ideal, até se vendo obrigada a copiar a estrutura administrativa de algumas dessas unidades que hoje apresentam problemas, para diminuir os seus custos. Isso sem contar outros problemas que os docentes enfrentam no seu dia a dia, como a falta de vagas em creches, a diminuição dos leitos do HU [Hospital Universitário], etc.”, argumentou o representante do segmento de doutores(as).

“Neste cenário, não me parece um bom momento para a expansão da universidade. Convido os senhores conselheiros a refletirem sobre as condições de trabalho do corpo técnico e de docentes das suas unidades e cursos. Temos funcionários e docentes suficientes em todos os cursos? Seus docentes, especialmente os mais novos, estão se sentindo valorizados em termos de condições de trabalho e remuneração? Não seria melhor usar essa es projeto de criação da FMBru estabilidade financeira (frágil) para corrigirmos os problemas atuais dos nossos cursos antes da expansão? O curso da implantação da nova unidade não será zero [em resposta a alegação da diretora da FOB, Marília Buzalaf], ela retira a possibilidade de usarmos esses recursos na correção dos problemas atuais das unidades existentes”.

A aprovação por ampla maioria do projeto de criação da FMBru, que coroa o projeto de destruição do HRAC iniciado há uma década, é uma importante vitória da gestão Carlotti Jr.-Maria Arminda, em meio a disputas relacionadas à sucessão reitoral, já deflagradas entre diferentes grupos da Reitoria embora mal completados dois anos do mandato atual.

O reitor abriu a reunião do Co fazendo a defesa do projeto e vinculando-o ao compromisso assumido com o governo estadual. A proposta foi defendida por aliados, entre eles o pró-reitor Aluisio Cotrim Segurado, da Graduação, e o diretor da FMRP, Rui Ferriani, que assumiu publicamente sua condição de presidente do Conselho de Curadores e Administração da Faepa. “A Faepa está bastante animada”, declarou Ferriani, sem citar os R$ 309 milhões que a fundação privada receberá pelo contrato de gestão do Hospital das Clínicas de Bauru (HCB) e o uso gratuito da força de trabalho do ex-HRAC.

Mais uma vez, é aprovado no Co, mediante discussão insuficiente, um projeto repleto de falhas estruturais e soluções improvisadas, graças em parte à folgada hegemonia que as gestões reitorais exercem nesse colegiado. Confira aqui a reunião do Co na íntegra.

EXPRESSO ADUSP


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