Prédio do “Inova USP” em Ribeirão Preto custa R$ 26 milhões e sediará laboratórios, “coworking” e “residência em empreendedorismo”
Prédio do Inova USP no câmpus de Ribeirão Preto (imagem captada em 30/4/25)

Na área central do campus de Ribeirão Preto, a Reitoria mandou construir um novo prédio para o “Inova USP”, o Centro de Inovação da universidade, criado em 2017, pela gestão M.A. Zago-V. Agopyan, “com a finalidade de propiciar ambientes e estratégias multidisciplinares de pesquisa, desenvolvimento e inovação na universidade” (Resolução 7.338). A obra, que se encontra em estado avançado de construção, custará R$ 26 milhões, segundo a placa afixada no local.

Matéria publicada em 13 de março último no Jornal da USP apresenta o futuro prédio do Inova USP como exemplo do “dinamismo dos projetos em andamento” no campus de Ribeirão Preto, sendo definido como “espaço que visa agregar e integrar laboratórios e diversas iniciativas, em um ambiente multidisciplinar dedicado ao desenvolvimento de inovação, onde haverá atividades colaborativas interdisciplinares num local multiusuário”.

O coordenador do Inova USP em Ribeirão Preto, Norberto Peporine Lopes, declarou ao Jornal da USP que o novo espaço “vai facilitar muito o trânsito das pesquisas do laboratório para o protocolo de inovação, para que cheguem mais maduras ao Supera Parque”. Sediado no campus de Ribeirão Preto, o Supera Parque é uma iniciativa conjunta da Agência USP de Inovação (Auspin), da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto e do governo estadual, que inclui a cessão de lotes de terreno, por prazo renovável de até trinta anos, a empresas “de base tecnológica”.

Vinculado inicialmente ao Gabinete do Reitor, hoje o Inova USP se encontra subordinado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), conforme a Resolução 8.230/2022, editada pelo reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr. Dispõe de orçamento próprio e de equipe própria.

O Informativo Adusp Online indagou ao Inova USP quais são as finalidades do prédio: “a) quais são os laboratórios e iniciativas a serem agregados no novo espaço?”, “b) “o local multiusuário será utilizado como ‘coworking’”? Também solicitou o número de pessoas que trabalharão no local após a inauguração.

Obra iniciou-se em abril de 2024, com término previsto para julho próximo

As perguntas foram respondidas pelo coordenador Lopes, para quem o novo edifício “foi idealizado com um conceito inovador e distinto do modelo da capital” e “não contará com laboratórios fixos, como no caso do Inova USP São Paulo, mas sim com ambientes altamente qualificados e de uso compartilhado, voltados para a pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e formação em inovação”. De acordo com ele, os “principais componentes” do novo espaço serão o Laboratório Certificado para Estudos Avançados em Modelos Animais, o Laboratório de Desenvolvimento e o NIDUS, “a primeira residência universitária em inovação, inédita no país”.

Instalado no prédio oval, na parte da frente do prédio, o Laboratório Certificado “será dedicado a estudos com animais de experimentação, com infraestrutura certificada para o desenvolvimento de novos medicamentos”. Lopes o definiu como “estrutura inédita no Brasil, voltada a pesquisadores que, atualmente, dependem de parcerias no exterior para conduzir essa etapa crítica do desenvolvimento pré-clínico”. Ele será multiusuário e “estará disponível para qualquer docente da USP com projetos aprovados”.

O Laboratório de Desenvolvimento, por sua vez, deverá ocupar um andar completo do novo prédio. Também será multiusuário, mas seu uso será rotativo, organizado por meio de editais periódicos, voltados para docentes que atuam no desenvolvimento de tecnologias, “especialmente aqueles que necessitam de infraestrutura certificada para avançar em estudos que envolvam validação, escalonamento e testes de protótipos”.

O terceiro componente citado pelo coordenador é o programa denominado Núcleo de Formação de Empresas e Empreendedores da USP, conhecido como NIDUS. “Estudantes de diferentes áreas do conhecimento, selecionados por meio de edital, passarão por um programa de imersão de dois anos, desenvolvendo projetos integrados com impacto social e tecnológico”, diz Lopes. O foco será a “formação de talentos para a inovação científica, tecnológica e cultural”. O NIDUS é vinculado à PRPI, e quem promove os editais é a Auspin.

O coordenador reconhece que “parte do espaço multiusuário do InovaUSP Ribeirão Preto seguirá uma lógica inspirada em modelos de ‘coworking’”, porém, pondera, haverá uma “abordagem voltada à pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação científica”, e um dos ambientes será reservado para “oficinas de trabalho para empreendedorismo social, campo ainda incipiente no Brasil, mas que nossos docentes e alunos podem colaborar de forma significativa”.

Ainda segundo Lopes, “a proposta de ‘coworking’ tradicional — como ocorre com frequência em prototipagem, design e empreendedorismo inicial — será centralizada no ambiente já existente da FEARP [Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto], conhecido como Teias. O objetivo é não duplicar estruturas, mas sim promover a integração entre iniciativas”. O novo prédio do InovaUSP, acrescentou, abrigará um “coworking laboratorial certificado”, voltado a pesquisadores em estágios mais direcionados a inovação (leia ao final do texto a íntegra das explicações encaminhadas pelo coordenador).

Foco do NIDUS é “formação de pessoal qualificado em empreendedorismo”

Dos três principais componentes do novo espaço apontados por Lopes, chama atenção especialmente o NIDUS. De acordo com o edital publicado pela Auspin em outubro de 2024 no Diário Oficial do Estado, trata-se de um “programa de residência em inovação com foco na formação de pessoal qualificado em empreendedorismo”. O objetivo do edital, por sua vez, é “selecionar pessoas com interesse pelo empreendedorismo ou em fase de concepção de modelos de negócios de cunho tecnológico e/ou social [sic]”.

Cabe indagar se é papel da universidade pública criar e manter um núcleo de formação de empresas e empreendedores e abrir programas de “residência universitária em empreendedorismo”, e se é adequada a definição de “negócios de cunho social”.

Iniciativas de teor idêntico proliferam na USP desde que a Auspin, que acaba de completar seu vigésimo aniversário de existência, foi legitimada por sucessivas gestões reitorais (de 2014 em diante) como formuladora de políticas estratégicas da universidade, o que desembocou na trágica decisão do Conselho Universitário de 30 de novembro de 2021, de aprovar uma “Política de Inovação” que agride o tripé ensino-pesquisa-extensão.

“A USP produz inovadores, empreendedores, esta é a nossa principal missão”, proclamou na ocasião o coordenador da Auspin, Luiz Henrique Catalani. A frase é reveladora na medida em que, além de relegar a segundo plano as tarefas primordiais da universidade pública, atesta a simbiose entre “inovação” e “empreendedorismo” que norteia as ações da Reitoria.

Íntegra das respostas do coordenador do Inova USP de Ribeirão Preto

a) “Quais são os laboratórios e iniciativas a serem agregados no novo espaço?”

O novo edifício do InovaUSP em Ribeirão Preto, em fase de construção no campus da USP local, foi idealizado com um conceito inovador e distinto do modelo da capital. Ele não contará com laboratórios fixos, como no caso do InovaUSP São Paulo, mas sim com ambientes altamente qualificados e de uso compartilhado, voltados para a pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e formação em inovação. Os principais componentes são:

Laboratório Certificado para Estudos Avançados em Modelos Animais.

Instalado no prédio oval (frontal), este espaço será dedicado a estudos com animais de experimentação, com infraestrutura certificada para o desenvolvimento de novos medicamentos. Trata-se de uma estrutura inédita no Brasil, voltada a pesquisadores que, atualmente, dependem de parcerias no exterior para conduzir essa etapa crítica do desenvolvimento pré-clínico. O espaço será multiusuário e estará disponível para qualquer docente da USP com projetos aprovados.

Laboratório de Desenvolvimento (Uso Rotativo com Editais)

Um andar completo do novo prédio será destinado a um laboratório multiusuário de uso rotativo, certificado para pesquisa aplicada. Seu uso será organizado por meio de editais periódicos, voltados a docentes que atuam no desenvolvimento de tecnologias, especialmente aqueles que necessitam de infraestrutura certificada para avançar em estudos que envolvam validação, escalonamento e testes de protótipos.

NIDUS – Primeira Residência em Inovação do Brasil

No andar inferior, será instalado o NIDUS, uma iniciativa inédita no país: a primeira residência universitária em inovação. Estudantes de diferentes áreas do conhecimento, selecionados por meio de edital, passarão por um programa de imersão de dois anos, desenvolvendo projetos integrados com impacto social e tecnológico. Essa residência será vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, com foco na formação de talentos para a inovação científica, tecnológica e cultural.

b) “O local multiusuário será utilizado como ‘coworking’?”

Sim, parte do espaço multiusuário do InovaUSP Ribeirão Preto seguirá uma lógica inspirada em modelos de “coworking”, porém com uma abordagem voltada à pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação científica. Outro ponto importante é que um dos ambientes superiores deverá ser direcionado a ambientes de oficinas de trabalho para empreendedorismo social, campo ainda incipiente no Brasil, mas que nossos docentes e alunos podem colaborar de forma significativa.

O laboratório de uso rotativo, localizado em um dos andares superiores, será compartilhado entre diferentes docentes e suas equipes de pesquisa, com acesso determinado por meio de editais periódicos. A proposta é que grupos atuem de maneira simultânea e cooperativa em um ambiente qualificado e com estrutura certificada para desenvolvimento das etapas iniciais de pesquisa para novos produtos e tecnologias.

Contudo, a proposta de “coworking” tradicional — como ocorre com frequência em prototipagem, design e empreendedorismo inicial — será centralizada no ambiente já existente da FEARP/USP, conhecido como Teias. O objetivo é não duplicar estruturas, mas sim promover a integração entre iniciativas. Assim:

O Teias/FEARP continuará responsável pelo coworking de prototipagem e design inicial.

O InovaUSP abrigará um “coworking laboratorial certificado”, voltado a pesquisadores em estágios mais direcionados a inovação.

Essa estratégia visa otimizar recursos, fortalecer a cultura de colaboração e oferecer aos docentes e alunos um caminho contínuo de inovação — desde a ideação e prototipagem até a validação técnica em laboratórios certificados, formação por meio da residência NIDUS, e possíveis conexões com incubadoras e parceiros industriais ou sociais.

Trata-se de um novo modelo de ambiente de inovação compartilhado, pensado para preparar a comunidade USP para os desafios da inovação tecnológica e social em alto nível.

EXPRESSO ADUSP


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