Universidade
Rede Não Cala defende diálogo para que não se perca “a oportunidade conjunta de retirar o Crusp da situação de abandono em que se encontra”
A Rede Não Cala de Professoras e Pesquisadoras da USP pelo fim da violência sexual e de gênero divulgou no final de dezembro uma carta aberta à comunidade universitária na qual afirma que não se pode perder “a oportunidade conjunta de retirar o Crusp [Conjunto Residencial da USP] da situação de abandono em que se encontra, encaminhando e cuidando dos complicados conflitos ali presentes”.
A Rede se refere aos conflitos registrados no Crusp no final de 2022, que levaram a “seguidas denúncias de agressões ocorridas nos espaços do Crusp, acompanhadas de vídeos, fotografias, cópias de boletins de ocorrência e depoimentos”, conforme nota divulgada pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP).
De acordo com a PRIP, a gravidade dos acontecimentos levou à “instauração de processo administrativo disciplinar para averiguação dos fatos”, e em dois casos, “que apresentavam provas irrefutáveis, foram determinadas medidas cautelares de restrição da circulação dos denunciados no Crusp”. A PRIP garantiu na ocasião que os denunciados teriam “amplo direito de defesa no âmbito do processo administrativo”.
Na avaliação da Rede Não Cala, há três pontos fundamentais envolvidos nas questões referentes ao Crusp: “1) a necessidade de melhoria das condições físicas dos prédios, que apresentam problemas estruturais que colocam em risco a vida e a segurança de moradores(as); 2) a urgência na criação de canais efetivos e democráticos de diálogo e negociação entre moradores(as) e órgãos da gestão, para construir novas regras de convivência e para elaborar planos de recuperação dos patrimônios material e imaterial do Crusp; 3) a regularização da ocupação do espaço de moradia, lidando com situações como a de estudantes que permanecem tempo exageradamente prolongado, pessoas que habitam apartamentos sem estarem registradas ou sem possuírem vínculo com a universidade e inúmeras irregularidades que impedem a ampliação da oferta de moradia para estudantes que ingressaram na USP e dela necessitam”.
As ações de integrantes da Rede com estudantes que vivem nos blocos da moradia permitiram constatar que entre ela(e)s há “sofrimento emocional, precariedade financeira, vulnerabilidade social, violência física, emocional e sexual, medo de ali permanecer, entre outras experiências, que são resultado, principalmente, do abandono a que o Crusp foi relegado durante muitos anos”.
A Rede considera que a PRIP, “por meio da coordenadoria Vida no Campus, tomou a acertada decisão de buscar cuidar do Crusp”. Suas ações, porém, “estão suscitando resistência, em muitos casos violenta, por parte de pessoas que parecem ter criado regras próprias, sentindo-se prejudicadas em seus interesses que podem não ter relação com a vida acadêmica e nem com o apoio necessário à realização de seus estudos”.
Espaço público “não pode ser transformado em terra de ninguém”
“Temos observado atônitas o uso de campanhas de desinformação, com a disseminação de boatos tais como: instalação de catracas, expulsão sumária de moradores(as), impedimento de recebimento de diploma, entre outros. Tais desinformações são irreais frente aos próprios processos da Universidade, mas, infelizmente, caem no terreno fértil do pânico cotidiano vivido por estudantes. Nos assusta perceber o uso deste tipo de estratégia, quando há tentativas de estabelecer diálogo com moradores(as)”, prossegue a carta aberta.
A Rede Não Cala afirma que “o espaço público, como é o caso da moradia estudantil, não pode ser transformado em terra de ninguém, lugar de anomia, regido pela violência de facas e socos, por atos racistas e pelo silenciamento de vozes dissonantes, em que a vontade de alguns venha a se impor pela truculência e pela manipulação”.
O coletivo ressalta que as “as representantes da PRIP, especialmente a coordenadora da Vida no Campus, Profa. Dra. Marie Claire Sekkel, têm agido com abertura e escuta” e que, embora qualquer ação esteja sujeira a controvérsias e erros, “um espaço de discussão efetivo tem sido buscado”, o que “deve ser valorizado”.
De acordo com a carta aberta, “a disposição da PRIP foge à histórica trajetória que oscilou entre abandono e autoritarismo institucional na condução dos problemas do Crusp que, pensamos, escancaram problemas que são de toda a USP”.
A Rede defende que é preciso realizar “as reformas estruturais necessárias para a melhoria de suas instalações físicas”, repactuar “regras de convivência e critérios de permanência” e reinstalar “práticas de participação e decisão democráticas do coletivo”.
“E, mais do que consertar o que pede conserto, parece que se apresenta a ocasião para sonhar com ir adiante, buscando a criação de vagas de moradia para todos(as) os(as) estudantes que delas precisam, inventando formas de transição ou programas de saída para quem se forma, aperfeiçoando os canais e meios de comunicação, valorizando a informação e o debate que contribuam para a construção do Crusp que queremos, um lugar para se habitar com dignidade e tranquilidade”, conclui a Rede Não Cala.
No dia 20/12, a PRIP convocou uma reunião, da qual participaram várias entidades e representantes da(o)s moradora(e)s. A Diretoria da Adusp também esteve no encontro e divulgou nota na qual afirma que “o diálogo aberto na ocasião é promissor e deve ser encorajado”.
“A Diretoria da Adusp exorta os grupos envolvidos nesses conflitos, bem como a PRIP, a continuarem buscando uma solução adequadamente negociada entre as partes, com a participação do DCE-Livre e de outras entidades que possam atuar como mediadoras”, conclui a nota.
Também no dia 20/12, a PRIP publicou comunicado em sua página na internet afirmando que “são muitas as denúncias de insegurança no Crusp”, incluindo “arrombamentos de apartamentos, agressões verbais e físicas que não podem ter lugar na nossa universidade”.
“Desde o início de dezembro as portarias do Crusp vêm realizando o registro das entradas nos blocos do Crusp. O registro das entradas é a simples anotação do nome e número de documento daqueles que entram nos blocos, e é aprovado pela grande maioria dos moradores. Não há catracas”, ressaltou a pró-reitoria.
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