Sintusp protesta contra “lei da mordaça” no Museu de Zoologia e demissão de funcionário por mero comentário em grupo privado do WhatsApp
Manifestantes do Sintusp na escadaria do Museu de Zoologia, durante protesto contra perseguições na unidade (foto: Daniel Garcia)

Nesta terça-feira, funcionárias e funcionários técnico-administrativos(as) da USP participaram de uma ruidosa manifestação de protesto diante do Museu de Zoologia da USP, na Avenida Nazaré, no bairro do Ipiranga, buscando reverter a demissão de um trabalhador daquela unidade que entendem ser imotivada e autoritária. A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), que desde setembro de 2023 vem denunciando perseguições administrativas no Museu de Zoologia.

“O diretor Marcelo Duarte vem criando um clima de terror e perseguição contra os funcionários do museu, abrindo processos administrativos absurdos e já tendo determinado uma demissão mesmo com a Comissão Processante do caso não tendo indicado essa medida”, declara o Sintusp em seu perfil no Instagram. Nomeado pelo reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr., Duarte assumiu o cargo em maio de 2023.

Na última semana, a direção da unidade e a Reitoria da USP “consumaram a demissão de um dos funcionários que estavam sendo processados”, denuncia ainda o sindicato. “O mais absurdo é que a canetada que demitiu o companheiro contrariou a própria sugestão da Comissão Processante, já injusta e desproporcional”. De acordo com o Sintusp, o relatório final do processo administrativo disciplinar (PAD) instaurado contra o funcionário em questão propôs apenas que ele fosse suspenso por um mês, além de encaminhado ao Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho da USP (SESMT) para acompanhamento.

Contudo, o diretor do Museu de Zoologia rejeitou a conclusão da Comissão Processante e decidiu recomendar ao reitor a demissão. Carlotti Jr. anuiu e demitiu o trabalhador. A decisão reitoral parece teratológica, totalmente antidemocrática, uma vez que a razão alegada para instauração do PAD foram simples comentários exaltados feitos pelo funcionário num grupo privado de WhatsApp, do qual participava com colegas da unidade.

Os trabalhadores do museu discutiam no grupo o procedimento a que estavam sendo submetidos para retirar determinados materiais do almoxarifado. Várias trabalhadoras haviam manifestado incômodo ao serem fotografadas, e o funcionário demitido assumiu para si a as dores dessas companheiras, se revoltou e criticou a gestão neste grupo restrito a alguns colegas de trabalho. Esse procedimento de fotografar os trabalhadores era tão problemático que nenhuma chefia ou a direção assumiu a responsabilidade por ele”, relata o Sintusp no seu boletim de 27 de fevereiro.

Daniel GarciaDaniel Garcia
Faixa alude a apelido dado ao diretor, que estaria agindo como um tirano em relação aos(às) trabalhadores(as)

“De forma totalmente obscura as fotos foram suspensas pela administração, deixaram de ser tiradas, e a própria Comissão Processante teve que sugerir ao Museu um plano de comunicação institucional com ‘metodologias participativas’. No entanto, quem antes ousou levantar a voz contra aquele procedimento esdrúxulo foi punido com a perda de seu emprego!”, protesta o boletim.

O modus operandi dessa demissão no Museu de Zoologia faz lembrar episódio ocorrido na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), em que o diretor recomendou à Reitoria a demissão de um docente, embora o relatório final do PAD propusesse apenas suspensão por três meses. Em 2019 o então vice-reitor Antonio Hernandes, no exercício do cargo de reitor, demitiu o professor conforme desejava o diretor da FOB. O docente recorreu judicialmente e a USP perdeu em todas as instâncias. O caso transitou em julgado em maio de 2022, após decisão final do Superior Tribunal de Justiça (STF) novamente desfavorável à universidade.

“Não podemos deixar vigorar a ‘lei da mordaça’ na universidade. Não podemos permitir que os ambientes de trabalho sejam cada vez mais massacrantes e sejamos obrigados a aceitar calados”, assinala o Sintusp a propósito da unidade do Ipiranga. “Não podemos deixar passar que pequenos ditadores levem a cabo a destruição da vida de nós funcionários”, acrescenta, para advertir: “Se isso ocorre no Museu de Zoologia, conta com o suporte e a proteção do reitor Carlotti (que assinou a demissão) e de toda estrutura jurídica autoritária da USP”.

O Informativo Adusp Online encaminhou ao diretor Marcelo Duarte algumas indagações a respeito da demissão ocorrida no Museu de Zoologia e da situação denunciada pelo Sintusp, porém até o fechamento desta matéria não recebemos respostas. Caso cheguem, a matéria será devidamente atualizada.

Ainda, levando em conta que a decisão final cabe sempre ao reitor (ou reitora), o Informativo Adusp Online endereçou à Assessoria de Imprensa da Reitoria a seguinte questão: “Qual a justificativa para a demissão do servidor, uma vez que a Comissão Processante teria recomendado apenas suspensão desse servidor por um mês?”. A Reitoria esquivou-se de responder, alegando que “quem deve ser o porta-voz nesse caso é o diretor”.

EXPRESSO ADUSP


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