Pelo menos desde o último dia 12 de março, a USP está enfrentando uma instabilidade recorde nos seus sistemas virtuais, que afeta principalmente os usuários que se encontram fora dos câmpus, e interrompe matrículas e processos seletivos de programas de pós-graduação. Docentes, servidores(as) técnico-administrativos(as) e estudantes foram bastante prejudicados nos seus afazeres acadêmicos. Circularam comentários sobre a eventual ação de um hacker, que teria derrubado as redes da USP.

Na reunião do Conselho Universitário (Co) realizada no dia 18 de março, o superintendente da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), professor João Eduardo Ferreira, pronunciou-se, atribuindo a instabilidade a um processo de troca da estrutura de proteção das redes que estaria em andamento. “Desde a semana passada estamos sofrendo alguns problemas técnicos, porque estamos trocando a estrutura de proteção de firewall de toda a universidade”, disse Ferreira. “Essa troca estava prevista há um certo tempo e é fruto de uma aquisição da Reitoria que chegou no final de janeiro, começo de fevereiro. Estamos trocando esse firewall, por isso as instabilidades”.

Nessa mesma reunião do Co, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr., embora tenha encenado cobrar explicações do superintendente do STI, corroborou as alegações apresentadas por seu subordinado. “Esse firewall tem uma inteligência artificial que precisa ‘aprender’ a fazer esse acesso. Então a instabilidade que estávamos tendo nesses últimos dias era porque o firewall estava entendendo os nossos acessos como acessos indevidos. Ele estava hipersensibilizado”, declarou Carlotti Jr.

Porém, nesta segunda-feira, 24 de março, o jornal Estadão publicou reportagem na qual informa que a USP “vem sofrendo ataques hackers em seus sistemas de informação há cerca de 15 dias”; que “houve problemas para que estudantes aprovados na lista de espera da Fuvest pudessem se matricular e dificuldades para acessar as plataformas de disciplinas online, e-mails institucionais, inscrições em concursos, holerite dos funcionários, entre outros”; que os ataques ainda não cessaram e houve ameaças por e-mail à instituição; e finalmente, que a universidade “denunciou o ataque à Polícia Federal, que investiga o caso”.

Nesta terça, 25 de março, o Informativo Adusp Online encaminhou à Reitoria, por intermédio da Assessoria de Imprensa da USP, as seguintes questões: “1) Procede a informação publicada ontem no Estadão de que a instabilidade nos sistemas virtuais da USP se deve a ataques de hackers? 2) Procede a informação de que a Reitoria denunciou o caso à Polícia Federal? 3) Caso essas notícias procedam, por que a Reitoria não as divulgou até agora? E por que omitiu o fato na última reunião do Conselho Universitário?”.

Em resposta, a Reitoria enviou a seguinte nota: “A USP reconhece instabilidade no sistema e está tomando medidas para a normalização. A apuração da instabilidade será realizada por instâncias competentes e informações poderão ser fornecidas no momento adequado”.

“Falta de comunicação do STI com a comunidade é inaceitável”, diz docente do IF

“A continuada indisponibilidade dos serviços para o público externo à USP representa um prejuízo operacional e reputacional enorme para a USP. O Jornal da USP e o site principal da USP estão fora do ar ou intermitentes. O Moodle Extensão não está disponível e os cursos de especialização e MBAs que usam este sistema estão parados. Os exames de proficiência do Centro de Língua e os processos de seleção de PPGs de várias Unidades estão sendo adiados. O material educativo disponibilizado está fora do ar”, comenta, a pedido do Informativo Adusp Online, o professor Ewout ter Haar, do Departamento de Física Experimental do Instituto de Física (IF-USP).

“Para grande parte dos alunos de graduação, sobretudo os do noturno, simplesmente não é viável entregar suas tarefas via e-Disciplinas usando a rede da USP ou VPN”, acrescenta o docente, que foi homenageado pela direção da Escola Politécnica (EP), durante a pandemia de Covid-19, por suas contribuições para a manutenção das aulas remotas, por meio do desenvolvimento da plataforma e-Disciplinas.

“A falta de comunicação do STI com sua comunidade é inaceitável. A impressão é que fomos abandonados, sobretudo quem lida com extensão e o público externo. O que está sendo feito? Contrataram uma empresa para ajudar resolver a emergência? Há algum tipo de plano que permita aos educadores refazer seus calendários?”, questiona Ewout.

“Por fim, infelizmente é fácil de acreditar que este fracasso ficará sem consequências. Mas certamente uma próxima gestão terá que repensar completamente a gestão de TI da USP, que, como já é óbvio por 15 anos, é essencial para o funcionamento normal da USP e não pode ser desprezada. É infraestrutura sem a qual a USP simplesmente para”, diz o professor do IF.

Uma outra fonte do Informativo Adusp Online familiarizada com os sistemas virtuais da universidade avalia que, “considerando a troca repentina de equipamento, não dá para descartar que o firewall anterior efetivamente quebrou”, mas adverte: “Só é estranho a troca do equipamento ter sido realizada no meio da semana. Historicamente a STI deixa fins de semana e feriados para manutenções dessa natureza. Ou a troca efetivamente aconteceu no período correto, mas a configuração de treinamento do novo equipamento começou a desandar depois”.

Quanto às informações publicadas pelo Estadão, essa fonte entende que pode ter ocorrido “um ataque de negação de serviço”. Nesse caso, explica, o hacker atacante “usa alguma técnica com base nos serviços disponíveis para gerar mais acessos do que o sistema consegue comportar”, e compara: “É parecido com o que acontece com site de ingressos quando abre a venda, mas feito de forma premeditada”.

Íntegra das explicações fornecidas por STI e reitor na reunião de 18/3 do Co

(Superintendente João Eduardo Ferreira)

Desde a semana passada estamos sofrendo alguns problemas técnicos, porque estamos trocando a estrutura de proteção de firewall de toda a universidade.

Qual o status atual? Os sites, inclusive o site da Fuvest, estão todos com acesso interno e externo. Os serviços do USP Digital, os chamados serviços corporativos, estão disponíveis para acesso interno, assim como o e-Disciplinas. Quem quiser acesso externo pode utilizar VPN.

Estamos ao mesmo tempo implantando e estruturando uma nova barreira de proteção, esse firewall que estamos trocando. Essa troca estava prevista há um certo tempo e é fruto de uma aquisição da Reitoria que chegou no final de janeiro, começo de fevereiro. Estamos trocando esse firewall, por isso as instabilidades.

Agora atingimos um ponto de estabilidade nos sites, interno e externo. Entretanto o [uso do] USP Digital e e-Disciplinas para usuários que não estão dentro da rede USP ainda não é possível.

Qual é o impacto disso? Amanhã temos matrícula de novos alunos, temos pessoas querendo se inscrever em concursos… Nossa programação é que hoje à noite começamos a também disponibilizar com uma certa segurança os sites externamente. Provavelmente termos algumas instabilidades eventuais, mas hoje o que conseguimos atingir é esse status.

Por que tivemos que fazer isso?

Porque na verdade toda a estrutura de TI precisa atualizar sempre essa estrutura de segurança. Essa lista de características e esse novo firewall é bastante competente, inteligente, com capacidade computacional bastante significativa, só que ele tem que “aprender” a estrutura do USP Digital e do e-disciplinas, que é uma estrutura complexa.

Em resumo, esse é o status atual da estrutura de rede e da estrutura de acesso à internet dos serviços USP.

(Reitor Carlotti Jr.)

Repetindo, os sistemas USP, Nereu, Apolo etc., se vocês estiverem dentro da USP, estão funcionando. Se vocês estiverem fora da USP, só se utilizar o VPN da USP. Até há poucos dias, o VPN não estava funcionando.

Esse firewall tem uma inteligência artificial que precisa “aprender” a fazer esse acesso. Então a instabilidade que estávamos tendo nesses últimos dias era porque o firewall estava entendendo os nossos acessos como acessos indevidos. Ele estava hipersensibilizado.

Nós temos muitas URLs dentro da USP que é difícil reconhecer se estão certas ou erradas, são muitas coisas que temos dentro da universidade, isso provavelmente vai demorar alguns dias.

A STI a nosso pedido está fazendo algumas ações, um carinho especial para deixar funcionando sem instabilidade, por exemplo: as matrículas que os alunos vão fazer vão ser acompanhadas pela STI para que isso funcione e não tenhamos, como na primeira matrícula, que adiar em um ou dois dias.

Não dá para termos isso em todas as unidades, todas as situações.

Vamos ter alguns dias ainda de instabilidade para o acesso externo.

(Acrescentou que a Reitoria enviará ofício à Fapesp informando sobre a instabilidade dos sistemas da USP, para eventuais prorrogações de prazos de processos na agência.)

EXPRESSO ADUSP


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