Inclusão e pertencimento
Professoras de educação infantil repudiam convênio da USP com a Prefeitura para abertura de CEI no lugar da Creche Oeste
Verdadeira reabertura, “como instituição pública e de qualidade”, da unidade fechada desde 2017 “somente aconteceria mediante a contratação do número necessário de funcionários e sua reintegração ao quadro de Creches desta Universidade”, diz manifesto, que denuncia início de “processo de terceirização da educação infantil”
As professoras de Educação Infantil da Creche e Pré-Escola Central da USP divulgaram uma carta de repúdio à proposta da Pró-Reitoria de Pertencimento e Inclusão (PRIP) da USP de firmar um convênio com a Secretaria Municipal da Educação para “reabertura” da Creche Oeste, na Cidade Universitária. A creche está fechada desde o início de 2017, sem qualquer justificativa ou fundamentação, por ordem do então reitor M. A. Zago.
Na avaliação das professoras, “referir-se a esse convênio como uma ‘Reabertura da Creche Oeste’ é uma expressão que maquia o fato de que o convênio inicia um processo de terceirização do serviço de educação infantil na USP e, na realidade, enterra a possibilidade de verdadeira reabertura da Creche Oeste, como uma Instituição pública e de qualidade, o que somente aconteceria mediante a contratação do número necessário de funcionários para a retomada da instituição e sua reintegração ao quadro de Creches desta Universidade”.
“Para nós”, afirma o grupo, “a USP não enxerga a Infância como território fértil para o ensino e pesquisa, tendo-a como mais um penduricalho a ser descartado”.
As professoras enfatizam que o portal da Secretaria Municipal de Educação, ao noticiar o convênio com a USP “para a implantação de um Centro de Educação Infantil (CEI)”, evidencia que o centro “será administrado em parceria com Organização da Sociedade Civil (OSC)”. Ou seja, aponta a carta de repúdio, “repassando a responsabilidade de aspectos importantes para o processo educativo às organizações privadas”.
Por meio dessas parcerias – “privatização de novo tipo”, denunciam as professoras –, o município vem nos últimos anos “dando espaço para que outros atores privados com fins lucrativos entrem em cena, consolidando o setor particular dentro do setor público”.
“Repudiamos o fato de uma Universidade Pública, como a Universidade de São Paulo, se unir ideologicamente a esta prática mercantilista do conhecimento, bem como sua repulsa à Educação Infantil, dentro de seus domínios. Repudiamos o fato de não cumprirem em sua totalidade e de maneira qualitativa – considerando a potência que tem – todas as ações ligadas aos três aspectos de sua função social: ensino, pesquisa e extensão”, afirma o documento.
Dessa forma, concluem as professoras, a universidade abre mão desse tripé e adere a outro “que está a serviço do lucro e do bem privado: sucatear, terceirizar e privatizar” (destaques no original).
PRIP agenda reunião com ocupantes da Creche Oeste, mas estes querem amplo debate sobre reabertura
A Coordenadoria de Vida no Campus da PRIP, cuja titular é a professora Marie-Claire Sekkel, ex-diretora da Creche Oeste, encaminhou na terça-feira (28/3) uma carta aos e às integrantes da Ocupação Creche Aberta convocando-os para uma reunião na última quinta-feira (30/3).
O objetivo da reunião, de acordo com a carta, era “conversar sobre a desocupação do espaço”, dada a assinatura de um protocolo de intenções entre a Prefeitura de São Paulo e a USP para a “abertura de um Centro de Educação Infantil público no prédio da antiga Creche”.
Nenhum(a) integrante da ocupação, que se mantém no espaço da Creche Oeste praticamente desde o fechamento da unidade, em 2017, compareceu à reunião.
Um dos ocupantes disse ao Informativo Adusp que a reunião foi comunicada de última hora, “sem que participássemos da discussão do dia ou do horário”, e também sem qualquer documentação referente ao encaminhamento da proposta ou aos temas em discussão.
De acordo com esse ocupante, é preciso haver uma discussão não só sobre a proposta de reabertura da creche e dos moldes em que ela se dará, mas também sobre o desmonte e o sucateamento da universidade, a partir de episódios como o próprio fechamento intempestivo da unidade, a situação do Hospital Universitário (HU) e o descaso histórico com a moradia estudantil.
O(a)s ocupantes estão se articulando com entidades de dentro e de fora da USP para promover discussões sobre o tema e também formular propostas para a creche que não venham “de cima para baixo”.
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