Opinião
Jair Borin contra o lobby no jornalismo brasileiro
Neste texto o professor Luciano Victor Barros Maluly, do Departamento de Jornalismo da ECA, chama atenção para a necessidade de investigação jornalística de determinados informes “plantados” na mídia brasileira por um certo multibilionário
Os principais portais jornalísticos brasileiros mantiveram em destaque um expressivo número de textos alimentados por declarações de um sujeito ofensivo à democracia brasileira e por dados distribuídos pelas agências ligadas ao atual chefe de um conhecido país vizinho.
O interesse de ambos é o de colocar em evidência as suas ações, como forma de recuperar o prestígio no mundo dos negócios e da política, respectivamente.
E olha que esses senhores estão conseguindo “plantar” informes publicitários e propagandas políticas gratuitamente, sem contestação dos editores sobre a factualidade desse conteúdo.
Com seu negócio de mídia em decadência, o tal também vendedor de carros (que promete modificar a indústria mundial com inovações e possíveis ganhos ambientais) conseguiu substituir o nome da sua empresa para uma letra em “caixa alta”, atraindo os seguidores de um discurso do vale-tudo em prol da liberdade de expressão, especialmente daqueles que usam a força para destruir o equilíbrio social em benefício próprio.
Já o atual mandatário do simpático país vizinho revela uma nova nação, repleta de dados com exaltações ao rápido avanço econômico (mesmo que a realidade seja contrária a esse discurso). Repete-se uma história latino-americana baseada em números e no triste distanciamento entre ricos e pobres. Nesse patamar, vale se aproximar dos poderosos estrangeiros e, ao mesmo tempo, atacar os adversários contrários à exploração.
A apuração é fundamental ao jornalismo de qualidade e parece que esses dados deixaram de ser checados, ou melhor: investigados. Sendo assim, esses textos não podem ser facilmente enquadrados como desinformação ou fake news, porque eles existem e foram produzidos por gente perigosa que conhece e, muito, o processo de comunicação.
Até quando os nossos editores deixarão se enganar?
Relembrando as aulas sobre media-criticism do jornalista e professor Jair Borin (1942-2003), da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP):
Seria falta de assunto, critérios duvidosos de seleção, matéria paga ou, simplesmente, publicaram esses textos por estarem de rabo preso com o lobby da classe dominante.
Professor titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, que chefiou de 1999 a 2001, Borin pesquisou as relações de poder no jornalismo e foi importante ativista da reforma agrária e apoiador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Também foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (por duas vezes) e, posteriormente, presidente da Associação de Docentes da USP (1995-1997). Faleceu em 22 de abril de 2003, deixando um legado que jamais será esquecido em defesa de uma sociedade justa e democrática (leia mais sobre Borin no portal da Adusp).
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