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Reitores insistiram nos 3%, mas Unesp só paga “quando puder”
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A reunião de 30/5 entre Fórum das Seis e Cruesp foi uma das mais degradantes desde que este órgão foi criado. Os reitores da Unicamp, José Tadeu Jorge (presidente do Cruesp) e da USP, M.A. Zago, ausentaram-se. Para representar Tadeu Jorge foi escalado Álvaro Crósta, vice-reitor da Unicamp, e no lugar do reitor da USP compareceram os professores Carlos Gilberto Carlotti Júnior, pró-reitor de Pós-Graduação, e Rudinei Toneto Júnior, da Coordenadoria de Administração.
Não houve negociação. Crósta e Carlotti insistiram no índice de reajuste de 3% como o máximo possível na conjuntura, repetindo o discurso das universidades na reunião anterior. O único reitor presente, Júlio Cezar Durigan, avisou: “A Unesp concorda com os 3%, mas não pode pagar agora, vai pagar quando puder”. No decorrer do debate, Durigan irritou-se com as críticas que sofreu. Gritou, bateu boca com representantes do Fórum das Seis e protagonizou um destempero ímpar na história de negociações entre o Cruesp e as entidades.
A bancada do Cruesp alegou que a queda na arrecadação do ICMS, informada recentemente pelo governo estadual, “reforça a posição dos 3% que foi colocada na mesa de negociações”. Reconheceu, porém, que esse índice é “bastante aquém da inflação do período”.
Carlotti informou que o Co da USP decidiu favoravelmente aos 3%. Durigan evitou admitir que foi contrariado pelo Conselho Universitário da Unesp, que decidiu, em 23/5, não se pronunciar sobre o índice a ser negociado — a pretensão do reitor era que o colegiado fosse contrário a qualquer reajuste. “Na reunião do Conselho Universitário da Unesp foi decidido que o conselho não deveria se pronunciar, e consequentemente decidir, a respeito desse reajuste. Devolveu a responsabilidade ao reitor, para que decidisse isso na mesa de negociação”, declarou Durigan ao Fórum das Seis.
Insuficientes
O professor João Chaves, presidente da Adunesp, falando pela coordenação do Fórum das Seis, lamentou a ausência do presidente do Cruesp e do reitor da USP em momento tão importante para as três universidades, e condenou “a tentativa de colocar o Co na mesa de negociação”. “A comunidade considera os 3% insuficientes e solicita aos reitores que voltem a estudar o orçamento e conosco fazer gestões junto ao governo estadual, junto à assembleia legislativa, para elevar os recursos que são transferidos para as universidades públicas”.
A seguir pronunciou-se o presidente da Adusp, professor César Minto, que fez uma crítica à atitude dos reitores: “Vocês mencionaram alguns estudos, feitos por órgãos das universidades, e já faz décadas que a gente traz para essa mesa estudos que o Fórum das Seis faz, que mostram claramente ser impossível dar continuidade aos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão nas universidades sem mais recursos para USP, Unesp e Unicamp. Não faz muito tempo publicamos [o livreto] Aritmética, Política e Universidade onde tratamos claramente disso. É muito curioso que o Cruesp não leva a sério esses estudos. Pelo contrário: sequer se dá conta de trabalhar de uma maneira planejada”.
Deu como exemplo, então, o pedido de informações à Reitoria sobre os impactos da PEC 139/15: “Fizemos um ofício à USP perguntando: ‘Diante da PEC 139, que pode acabar com o abono de permanência, queremos estar informados de quantos são os servidores, tanto docentes como técnico-administrativos, que usufruem do abono de permanência, porque se a PEC passa é muito provável que um número significativo desses servidores peça aposentadoria’. Não temos nem essa resposta”.
Ele afirmou que o Cruesp trabalha sem planejamento: “Vocês fazem uma opção clara de funcionarem, as três universidades, à base dos salários dos servidores, docentes e técnico-administrativos. Ou seja, repetem aquela velha história: trabalham dentro das universidades como se fossem representantes do governo do Estado, e não o contrário: representantes das universidades diante do governo do Estado e da sociedade paulista. Essa coisa tem limites, e está chegando no topo”.
Desmedida
Outra intervenção contundente foi a de João de Oliveira, do Sintunesp e da coordenação do Fórum, que a maior parte do tempo dirigiu-se diretamente ao reitor Durigan: “Só nos cabe lamentar essa decisão [sobre o reajuste], principalmente a Unesp tendo o sr. há mais de uma década à frente da administração, e no final da sua gestão, não é professor?, entregar uma universidade sem carreira de professor, sem carreira de servidor, sem condição de contratação, uma expansão desmedida, uma expansão irresponsável, uma unidade nova com um dos cursos mais caros do país a se iniciar no segundo semestre… Eu não consigo chamar isso de gestão responsável”.
Ainda dirigindo-se ao reitor, Oliveira classificou como “de grande valia a resposta do Conselho Universitário à sua solicitação, professor, dizendo que salários, data-base, se trata em mesa de negociação, e se trata aqui [no Cruesp]”. “Dito isto, professor, não tem outra saída a não ser a paralisação total da Unesp”. E acrescentou: “O salário dos servidores na Unesp é o menor. O sr. dá a isonomia por encerrada, como se fosse uma balela”.
A Unesp, continuou o representante do Sintunesp, “não tem competência, não tem planejamento, não o fez assim como as outras duas também não o fizeram”. Para ele, as reitorias estão desmanchando a estrutura pública, “além de dar argumentos para que a Folha de S. Paulo publique que os senhores deverão contratar caixas para poder receber a mensalidade dos estudantes”.
“Fica quieto!”
Ao responder às críticas de Oliveira (e também às de Nely Wada, diretora do Sintusp), Durigan principiou dizendo-se “admirado”, depois afirmou que o representante do Sintunesp “não tem um pingo de crédito, porque ele não tem limite nas palavras”, mas logo desfechou uma série de agressões verbais: “Ele faz umas caretas… Eu acho que o João precisa ir para o médico”. Nesse momento outras pessoas intervieram, pedindo-lhe moderação. A uma delas, o reitor respondeu de modo grosseiro: “‘Pera um pouquinho, você fica quieto aí!, você não está falando nada”.
Continuou, tentando rebater a crítica de que “os reitores são culpados de tudo isso”, na sua interpretação: “A culpa é dos reitores, não é da Dilma, não é do Mantega, não é do Alckmin, nada. É dos reitores. Palhaçada! Falar que reitor quer acabar com hospital, que reitor não quer dar reajuste, que reitor quer mandar as pessoas embora. Pára com essa palhaçada, gente, isso é palhaçada”. Acrescentou: “Parem de jogar as coisas no ar. Eu sempre disse que 3% é um absurdo, é muito menos, deveria ser 12[%]. Mas e daí? Vai pedir para o governo do Estado!”
O reitor também ironizou a bancada do Fórum das Seis: “Eu pago para trabalhar na Unesp. Para mim é melhor ficar em Jaboticabal, com meu salário, tranquilo, do que ficar escutando essas bobagens aqui. Estou aqui porque visto a camisa da minha universidade. Ou só vocês que vestem? Os heróis da inconfidência. Reitor não é bandido.”
Este registro não deixa dúvidas quanto à incapacidade do Cruesp em negociar de forma aberta, democrática e respeitosa com o Fórum das Seis. O que dificulta cada vez mais a possibilidade de defender conjuntamente as universidades estaduais de modo condizente com a importância das atividades essenciais que realizam.
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