Memória
Ao homenagear memória de Eneas Salati, vice-diretor do CENA destaca conceito de “rios voadores”, que revela importância do bioma amazônico
No dia 5/10, como parte das atividades da Semana Agroecológica Piracicaba Orgânica (SAPO), ocorreu na Câmara Municipal uma homenagem à memória de Eneas Salati, notável pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA-USP) falecido em fevereiro último, aos 88 anos. Sua família recebeu a Medalha de Mérito Legislativo, conforme proposta apresentada pela vereadora Sílvia Morales (PV).
Salati foi um dos fundadores do CENA, onde planejou e construiu o Laboratório de Espectrometria de Massa para Elementos Leves, “para análises de deutério, nitrogênio-15, oxigênio-18 e carbono-13”. Dirigiu esse centro de 1981 a 1985. Também foi diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) de 1976 a 1979 e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) nos períodos 1979-1981 e 1991-1992.
Ainda segundo seu currículo Lattes, coordenou pesquisas para estudar a origem da salinização das águas subterrâneas do Nordeste brasileiro e desenvolveu projetos sobre distribuição de energia solar no país. Foi assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), consultor do Banco Mundial e membro do Fórum de Mudanças Climáticas.
“O CENA se sente especialmente grato por esta homenagem feita ao nosso professor Eneas Salati. Salati foi nosso diretor e um pesquisador de destaque”, declarou na cerimônia o professor Luiz Antonio Martinelli, vice-diretor do CENA, em nome da direção da unidade. “O professor Salati foi o primeiro a trazer para o nosso país um equipamento chamado espectômetro de massas, que originou uma técnica chamada isótopos estáveis, [em] que o CENA até hoje é referência”, explicou.
“Além dessa contribuição, de iniciar essa técnica no Brasil, o professor Eneas Salati publicou um artigo que até hoje é conhecido e citado no mundo inteiro: ele mostrou como a Floresta Amazônica, através da evapotranspiração, contribui para gerar chuvas na própria região. E que depois essa chuva vem, ali pelo norte do Mato Grosso, terminando aqui no sul de São Paulo, no norte do Paraná, saindo pelo Oceano Atlântico. É o conceito chamado de ‘rios voadores’”, continuou o vice-diretor.
“Então o professor Eneas Salati foi pioneiro em mostrar algo que hoje está muito em voga, que são os serviços ecossistêmicos, os serviços que o ecossistema nos proporciona, de maneira gratuita. E esse é um dos mais preciosos serviços que a natureza nos presta: é a geração de chuva pela própria floresta”, enfatizou Martinelli. “O professor Enéas Salati estaria muito preocupado com o descaso que vem sendo dado à nossa Região Amazônica. Porque ele foi um dos primeiros a entender a importância desse bioma para todo o país e para a saúde planetária”.
Ao encerrar a breve homenagem ao pesquisador, o vice-diretor do CENA reforçou sua alusão a questões urgentes na presente conjuntura do Brasil. “Este reconhecimento [com a homenagem] é muito importante para a ciência no país, que tem sido muito castigada, tem sido deixada em segundo plano, junto com o meio ambiente, e eu espero que num futuro breve a gente possa mudar este cenário. Só assim vamos poder honrar de fato a memória do professor Enéas Salati”.
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