Críticas da Oposição à gestão de M.A. Zago marcam os debates, mas Vahan emudece

O primeiro debate entre os candidatos a reitor e vice-reitor da USP foi realizado no dia 5/10 no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), no campus de São Carlos. A eleição da lista tríplice está marcada para 30/10. As quatro chapas compareceram e a discussão foi mediada pelo jornalista Reinaldo José Lopes.

Fotos: Marcos Santos/USP imagens
Vahan Agopyan Ricardo Terra

Ildo Luís Sauer, ex-diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), foi o primeiro candidato a se apresentar e fez críticas à gestão reitoral de M.A. Zago e à chapa de continuidade do atual reitor, encabeçada pelo vice-reitor Vahan Agopyan. “Os métodos utilizados para resgatar a USP de sua crise financeira não foram adequados, nem suficientes. Precisávamos manter um diálogo mais aprofundado, sincero e transparente com servidores, professores e alunos”, afirmou Sauer.

“As lamentáveis cenas de violência que acometeram a USP não são dignas do que é uma universidade responsável pela construção de futuro”, disse, referindo-se às ações da Polícia Militar, a pedido da Reitoria, no dia 7 de março. “Nós tivemos, então, uma negação daquilo que é o princípio fundamental e os valores fundadores da universidade”, avaliou Sauer. “A sinalização de que a culpa pela crise é dos servidores é inadequada”. “A reestruturação, através de PIDVs, sem prévio diagnóstico, dificultou muito a qualidade do que as nossas unidades puderam fazer”.

Sauer, cujo candidato a vice-reitor é Tercio Ambrizzi, professor do lnstituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), defendeu a retirada das grades construídas ao redor do prédio da Reitoria (“símbolo supremo da negação de diálogo”) e o aumento do protagonismo da USP no debate público. Destacou a situação do Hospital Universitário (HU): “Ele realmente é a maior parte do Orçamento da USP. Mas a forma como se tentou negociar a sua transferência para o Estado de São Paulo, que finalmente fracassou, revelou a profunda ausência de liderança e de capacidade de articulação da administração da USP”.

“Mal-estar enorme”

A professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) licenciada para disputar a eleição, endossou os apontamentos de Sauer e apresentou seu diagnóstico: “A USP hoje vive um sentimento de mal-estar enorme, uma sensação de que não temos saída”. Para Maria Arminda e seu vice, o professor Paulo Borba Casella, da Faculdade de Direito (FD), a responsabilidade por esse mal-estar recai sobre os ajustes fiscais do reitor Zago.

“Parece que estamos presos a um destino inelutável, que é a incapacidade de encontrar alternativas para a chamada crise de financiamento da universidade”, disse. “A autonomia não pode estar submetida a mecanismos financeirizados, frutos das corporações e do mundo global”, declarou a professora, em possível alusão ao acordo firmado em 2016 entre a Reitoria e a McKinsey&Company.

“Amadorismo”

Em contraposição, a terceira chapa a se pronunciar, encabeçada pelo professor Ricardo Ribeiro Terra (FFLCH), defendeu o reitor. Segundo Terra, “Zago conseguiu salvar a universidade dos erros enormes da gestão anterior, que levou à falência da USP”, cabendo ao futuro reitor e sua equipe dar continuidade e ampliação ao “quadro de transformações realizado pela gestão que se encerra”. Em crítica às outras chapas, o professor defendeu a “sustentabilidade financeira” da USP e declarou que “qualquer amadorismo ou populismo levará ao desastre”.

Terra descreveu a USP como uma “federação frouxa de unidades” e propôs transformá-la em uma universidade de fato. Um dos requisitos para isso seria a estrutura de avaliação: “A CPA está sendo montada e é fundamental que seja continuada na próxima gestão”. Quanto à estrutura de poder da USP, ele considera a noção de democracia universitária um equívoco: “Talvez, a longuíssimo prazo, o ideal seria ter um comitê de busca para a escolha do reitor”.

Vice-reitor afastado, Vahan Agopyan foi o último candidato a reitor a se apresentar e também defendeu a atual gestão, embora sem a mesma ênfase de Terra. Sem rebater diretamente as considerações de Sauer e de Maria Arminda, Vahan disse que a “universidade venceu uma etapa muito importante da sua consolidação como instituição que consegue superar crises financeiras”. Suas propostas são de continuidade, com foco em manter e ampliar a excelência da USP.

O candidato a vice-reitor da chapa de Agopyan, o pró-reitor de Graduação licenciado Antônio Carlos Hernandes, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), fez questão de reforçar que a universidade vive um “momento de esperança”.

Ribeirão Preto

O segundo debate organizado pela Comissão Eleitoral aconteceu no campus de Ribeirão Preto, no dia 11/10, mediado pelo jornalista Marcos Frateschi. Novidades: pela primeira vez desde que deixou a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) em 2016, Maria Arminda comentou as causas de sua saída, e Ricardo Terra explicitou suas críticas às práticas democráticas na universidade.

Por ordem de sorteio, a professora Maria Arminda foi a primeira candidata a se apresentar. Após condenar novamente a “financeirização” que se tornou central para a atual gestão, a professora ressaltou que sua chapa é de oposição, apesar de ter sido pró-reitora de Cultura e Extensão durante toda a gestão do reitor J.G. Rodas e a primeira metade do mandato de M.A. Zago. Segundo a professora, enquanto pró-reitora seu papel foi formular políticas de incentivo para a área de cultura e extensão, mas “exatamente este trabalho que foi estrangulado, esta espécie de desmonte na área fizeram-me sair decepcionada com promessas não cumpridas”.

Vahan Agopyan foi o segundo reitorável a se pronunciar e, desta vez, focou em apresentar propostas para a valorização dos recursos humanos. Aos funcionários técnicos-administrativos, prometeu a criação de cursos de “treinamento de formação pessoal”; aos professores, a retomada imediata da progressão horizontal e derrubada do teto salarial. Hernandes assumiu que a Chapa 1 é de situação e alegou que houve “avanços” na democracia da USP nos últimos anos, citando como exemplos o fim da lista tríplice na eleição de diretores de unidades e a transmissão online das reuniões do Co.

Ildo Sauer ressaltou que a gestão do reitor M.A. Zago foi uma continuidade da gestão de J.G. Rodas, contrapondo-se ao discurso de ruptura entre as duas últimas gestões defendido pelas chapas situacionistas 1 e 4. Sauer também afirmou que a atual crise da USP transcende as questões financeiras e que sua solução depende do diálogo e de participação da comunidade universitária.

O último candidato a se apresentar, Ricardo Terra, explicou sua recusa ao que chamou de “democracia universitária”. A seu ver, “essa perspectiva de transformar a procura do reitor em um processo que imita a política, leva também a imitar a política neste processo”, razão pela qual defende que reitores sejam escolhidos por um comitê de busca. “O que estamos vendo [nesta eleição] não é uma discussão sobre modelo de universidade no século 21. Estamos vendo um conjunto de promessas. Promessa de tirar a grade, ou seja, está convidando à invasão do prédio da Reitoria. Ou achando que conversa resolve tudo: conversar com alunos, governador, presidente etc…”, afirmou, em alusão às declarações de Ildo Sauer e Maria Arminda no debate.

Informativo nº 442

 
 

EXPRESSO ADUSP


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