Primeira mestra indígena formada na Faculdade de Medicina da USP, Indianara Kaiowá propõe mais políticas de permanência
Arguição de Indianara por integrante da banca (foto: Thaise Yumie)

No dia 18/7, a enfermeira Indianara Ramires Machado, mestranda da Faculdade de Medicina (FM-USP), defendeu com sucesso a sua dissertação, intitulada “Análise interdisciplinar e intercultural sobre as pessoas vivendo com Vírus da Imunodeficiência Humana e a Síndrome da Imunodeficiência na população Guarani da Terra Indígena de Dourados em Mato Grosso do Sul”.

Toda defesa é especial. Desta, porém, resultou o primeiro título de mestra concedido pela FM a uma indígena desde que a instituição existe, em 1913. Indianara Kaiowá, como ela é conhecida, teve como orientadora e coorientadora no mestrado, respectivamente, as professoras Maria de Lourdes Beldi de Alcântara e Cláudia Maria de Castro Gomes, ambas do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Experimental e do Laboratório de Patologia das Moléstias Infecciosas (LIM-50).

“Fico muito honrada em ser a primeira indígena defendendo trabalho de mestrado em 110 anos da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo”, declarou Indianara ao Informativo Adusp. “Esperamos que nossa pesquisa venha contribuir para as melhorias nas políticas de saúde ofertadas para os Povos Indígenas”.

Thaise YumieThaise Yumie
Indianara apresenta dissertação

Referência de saúde pública entre os povos indígenas, Indianara atuou como enfermeira numa unidade básica de saúde da aldeia Bororó (2013-2017) e depois como coordenadora técnica do Polo Base de Dourados do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Mato Grosso do Sul, vinculado à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do governo federal (2017-2020). A pedido da plataforma Educare, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), recentemente gravou uma vídeoaula sobre ações coletivas de saúde e protagonismo indígena.

“Espero que haja mais parentes indígenas cursando as graduações ou pós-graduação ofertadas pela universidade. O acesso de indígenas à pós-graduação é recente. Muitos colegas indígenas na pós-graduação relatam dificuldades quanto ao deslocamentos das comunidades de origem até a universidade, que está localizada na cidade, preconceitos dos não-indígenas, dificuldades financeiras, entre outras”, diz a nova mestra. “Para garantia da permanência dos indígenas na universidade são necessárias políticas de ações afirmativas que contemplem as especificidades dos estudantes indígenas”.

Pertencente à etnia Guarani Kaiowá, Indianara graduou-se no curso de Enfermagem do câmpus de Dourados da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), em 2011. “Sempre gostei de cursos que são da área da saúde. Minha formação sempre foi uma construção coletiva, para mim, minha família e principalmente para a comunidade indígena”, contou, em reportagem publicada no portal da UEMS.

Na mesma matéria, ela resumiu as dificuldades que precisou superar para completar o curso de graduação: “Eu morava na aldeia Bororó, não tínhamos transporte para a universidade, me deslocava até o ponto de ônibus mais próximo que ficava a 2,5 quilômetros de casa na aldeia Jaguapirú, para assim me deslocar até o terminal e então pegar o ônibus para a faculdade. Recebia o Vale Universidade Indígena [benefício instituído pelo governo estadual], que ajudava nas despesas”.

EXPRESSO ADUSP


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