Inclusão e pertencimento
PRIP registra boletim de ocorrência e abre apuração preliminar contra estudantes depois de novas tentativas de instalar portões no Crusp
A Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP abriu uma série de procedimentos disciplinares contra treze estudantes que “teriam impedido a realização de vistorias de início de ano nos apartamentos de diferentes Blocos do Crusp [Conjunto Residencial da USP]”, conforme diz a Portaria PRIP 003/2025, assinada no último dia 14 de janeiro pela pró-reitora Ana Lúcia Duarte Lanna. A portaria instaura uma “apuração preliminar para averiguar os fatos ocorridos nos dias 7, 8, 9, 10, 13 e 14 de janeiro de 2025” nos blocos do Crusp.
A Comissão de Apuração é presidida por Ivan El Murr, servidor da Faculdade de Odontologia e integrante da Comissão de Inclusão e Pertencimento (CoIP) da unidade, e composta ainda por Ester Gammardella Rizzi, docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e assessora da PRIP, e Sissi Fuzishima, servidora da Diretoria de Mulheres, Étnico-Raciais e Diversidade da PRIP, como secretária. O prazo para a conclusão dos trabalhos é de sessenta dias.
Em nota publicada em seu site no último dia 23 de janeiro, a PRIP informa que, além da apuração preliminar, registrou ainda “um Boletim de Ocorrência sobre atos de impedimento de realização de serviço público”, em relação ao qual “os moradores envolvidos poderão ser intimados para depoimento”, e solicitou “instauração de procedimento disciplinar a ser conduzido pela Procuradoria Geral sobre o impedimento de instalação dos portões no início de janeiro”. Nesse procedimento os estudantes envolvidos serão convocados para depoimento e averiguação dos fatos, diz a nota.
Conflitos ocorrem desde o segundo semestre de 2024
As medidas adotadas pela pró-reitoria estão relacionadas principalmente à instalação de portões para controle de acesso aos blocos da moradia estudantil, o que vem provocando conflito entre moradores/as e a PRIP desde pelo menos agosto do ano passado, quando um grupo barrou a tentativa de instalação no Bloco G. De acordo com a nota da PRIP, parte das pessoas que participaram da ação não tinham vínculo com a USP.

No dia 2 de janeiro de 2025, diz o comunicado, foi feita outra tentativa de instalação dos portões, e novamente “houve o impedimento da execução dos trabalhos, desta vez por moradores”. “Realizamos uma reunião e explicamos, mais uma vez, que os portões não alterariam nenhum dos fluxos de acesso existentes e que não haveria notificação a moradores irregulares com vínculo. Ainda assim, a resposta foi contrária à instalação dos portões”, prossegue a nota.
“Nas últimas semanas, houve a tentativa de inviabilizar a ação de vistorias, uma importante ação que não tem qualquer relação com o registro de acesso. Houve alguns casos com ofensas e desacatos a servidores públicos da zeladoria e da divisão de promoção social presentes”, diz ainda a PRIP.
A pró-reitoria justifica o registro de ocorrência policial e a abertura de procedimentos internos como providências que “infelizmente foram necessárias no âmbito de resguardar a instituição sobre as possíveis consequências legais dos atos”. “A PRIP segue atuando a partir do entendimento de que as decisões sobre as intervenções no Crusp devem ser tomadas dentro de um processo democrático. Os apartamentos do Crusp devem ser tratados como um bem público e não particular. É dever de todos zelar pelos espaços, pelos apartamentos, e manter uma convivência cordial e pacífica”.
Amorcrusp defende ampliação do número de vagas na moradia
Na avaliação de Daniel Lustosa, membro da direção da Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp), o que a universidade deseja é “colocar grades para expulsar irregulares porque afirma não haver vagas”. “Então que arrumem vagas e não expulsem os moradores, começando pelos Blocos K e L”, afirma, referindo-se aos dois prédios que pertenciam ao conjunto e na década de 1970 passaram a ser utilizados por órgãos da Administração da USP. Os blocos chegaram a abrigar a Reitoria, antes do seu retorno ao prédio histórico da Administração Central, reformado na gestão do ex-reitor J. G. Rodas (2010-2014).
A pró-reitora Ana Lanna assinou artigo na Folha de S. Paulo no dia 2 de janeiro, intitulado “O Crusp é parte da política de permanência estudantil”, no qual afirma que no final de 2024 a moradia possuía 1.281 vagas disponíveis, “sendo 1.086 delas (84,78% do total) ocupadas por moradores regulares, estudantes da USP selecionados a partir de uma lista única vinculada ao Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (Papfe)”.
“Apenas 117 moradores (9,1% do total) são estudantes USP em situação irregular”, diz a pró-reitora. De acordo com esse cálculo, seriam 78 os(as) moradores(as) irregulares sem vínculo com a universidade. O artigo, no entanto, não faz menção a esse contingente, que representa cerca de 6% do total das vagas disponíveis.
A quantidade de ocupantes sem vínculo com a universidade é ínfima, ressalta Daniel Lustosa. Em relação a esses casos, a entidade defende que a USP deve acionar o governo estadual e os movimentos sociais que lidam com a questão da moradia para debater políticas de habitação.
“Os irregulares que de fato existem são estudantes da universidade, com vínculo, pobres, mas que não foram contemplados pela política de permanência por conta da sua insuficiência”, afirma. “Como faltam vagas e o Crusp não dá conta da quantidade de estudantes pobres que chegam, esses estudantes ficam em situação irregular, mesmo possuindo o que as assistentes sociais chamam de perfil do Crusp.”
A Amorcrusp quer “a imediata regularização desses moradores, e para isso é necessário que haja mais vagas para moradia estudantil, com a expansão do Crusp, a finalização da reforma do Bloco D e principalmente a devolução dos blocos K e L”, diz. “Por que a Reitoria não debate a ampliação da moradia estudantil? A EACH até hoje não possui moradia estudantil, por exemplo.”
Em relação aos procedimentos adotados pela PRIP, Lustosa afirma que “a Amorcrusp está bem tranquila e vai continuar atuando como sempre atuou ao longo da gestão Ísis Dias de Oliveira: com os moradores”.
“O Crusp está passando por um processo de intensos debates sobre segurança, mas acima de tudo está unido contra o autoritarismo dessa universidade que se finge de progressista, mas que na primeira oportunidade persegue o movimento estudantil”, considera.
Em fevereiro, a Amorcrusp realiza um plebiscito sobre segurança. Até o dia 12 será aceita a inscrição de teses, que serão publicadas no dia 14. Nos dias 20, 21 e 22 de fevereiro ocorre a votação.
“A partir daí vamos ver os rumos da luta, mas o fato é que a luta por mais vagas é a nossa principal pauta neste início de ano”, diz o estudante.
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