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Estudantes fazem vigília contra instalação dos portões nos blocos da moradia (foto: divulgação)

A Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP (PRIP) promoveu nesta quinta-feira (15/8) uma consulta online “sobre a instalação de portões para controle de acesso nos blocos do Crusp” [Conjunto Residencial da USP], conforme mensagem encaminhada por e-mail aos e às moradores(as).

O enunciado da consulta diz: “A Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento iniciou um processo de instalação de portões de acesso nas portarias dos Blocos do Crusp. Você, como morador, é favorável ou contrário à instalação?” As opções oferecidas são “favorável”, “contrário” ou “nulo”.

De acordo com a mensagem, a PRIP decidiu “fazer esse processo considerando os atos de violência que ocorreram na data de hoje [14/8] quando a instalação dos portões foi iniciada”.

Na quarta-feira, alguns moradores do Crusp barraram a colocação das grades e portões de controle de acesso no Bloco G, havendo na sequência intervenção violenta da Guarda Universitária, de acordo com relatos de estudantes.

Ainda na quarta-feira, a PRIP enviou dois comunicados aos e às moradores(as). O primeiro deles, intitulado “Esclarecimentos sobre a instalação dos portões nos blocos do Crusp”, afirma que “são gravíssimos os relatos de ameaças aos funcionários da empresa instaladora dos portões”.

“Os responsáveis serão identificados e punidos na forma da lei. A comunidade USP não tolera que sua moradia estudantil seja palco de depredação de patrimônio nem muito menos ameaças de qualquer natureza à vida humana”, prossegue o texto, assinado pela Coordenadoria de Vida no Campus (leia a íntegra abaixo).

No segundo, intitulado “Comunicado Crusp de 14 de agosto de 2024”, de responsabilidade da própria PRIP, o texto diz que, “considerando as ações de extrema violência que ocorreram hoje no Crusp”, a pró-reitoria se compromete a: “1) apurar as responsabilidades sobre os atos de violência ocorridos e 2) continuar construindo canais de diálogo com moradores garantindo que o Crusp seja uma moradia estudantil digna”.

Já no comunicado sobre a consulta online desta quinta-feira, a PRIP afirma: “Em outros momentos de diálogo e consultas sobre o Crusp, recebemos dezenas de pedidos para a instalação de meios mais efetivos de controle de acesso aos prédios do Crusp. Essa demanda se justifica para enfrentar situações de violência, assédio, vandalismo e inseguranças diversas que infelizmente hoje acontecem nos blocos e áreas comuns”.

Moradores(as) iniciam vigília e vão realizar seminário para discutir segurança no Crusp

Ainda na noite de quarta-feira, moradores(as) ocuparam o térreo dos blocos F e G para realizar uma vigília com o objetivo de impedir a instalação dos portões de acesso. A realização da vigília foi uma decisão da assembleia de moradores(as) realizada pouco antes, disse ao Informativo Adusp Online o estudante Daniel Lustosa, que integra a direção da Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp) e do DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme”.

Paulo Hebmüller
No Bloco G, cartazes improvisados expressam indignação e repúdio às grades (foto: divulgação)

De acordo com Lustosa, o movimento deve continuar até o domingo da próxima semana (25/8), quando será encerrado um seminário promovido pela Amorcrusp, com início na sexta-feira (23/8), que vai “debater com o conjunto dos moradores qual é a política de segurança que queremos adotar”.

“Pelo entendimento geral dos moradores, essa política das grades deve ser completamente rejeitada e o projeto deve ser organizado pelos próprios moradores”, ressalta. “No final do seminário vamos declarar qual é a posição dos moradores sobre segurança e apresentar para a PRIP para que acolha essa posição.”

A entidade orientou os(as) moradores(as) pelo voto contrário na consulta, processo que o dirigente considera atropelado e não democrático.

Lustosa relata que a Amorcrusp comunicou à PRIP, em reunião na última segunda-feira (12/8), que tinha preocupações sobre como a colocação das grades afetaria os(as) moradores(as) em temas como recepção a visitas e situação dos(as) moradores(as) irregulares que estão nos blocos.

“Isso ainda não estava claro, e a PRIP ficou de enviar o que havia estabelecido sobre esse funcionamento para que pudéssemos fazer alterações ou nos posicionar em relação ao projeto”, diz. Mas, de acordo com o dirigente estudantil, o material foi enviado pela PRIP apenas na terça-feira (13/8) à noite, quando também foi feito o anúncio de que os portões seriam instalados já no dia seguinte.

“Isso foi o principal estopim dessa luta, porque eles acordaram com a gente que haveria um diálogo e romperam com isso em seguida. Nem nos passaram as orientações e já estavam instalando os portões, com várias coisas incertas e muita discordância da comunidade cruspiana”, aponta Lustosa.

Na manhã da quarta-feira, os portões começaram a ser instalados, “e alguns moradores espontaneamente foram fazer um protesto lá”, relata. Lustosa e outras lideranças estavam no ato contra a militarização das escolas públicas quando receberam as informações sobre a situação e se dirigiram ao campus.

De acordo com o dirigente, a determinação da PRIP era “de colocar as grades de qualquer maneira, e acabou que nessa ofensiva deles houve um confronto, inclusive com a Guarda Universitária sendo colocada para cima dos estudantes, com muita violência”.

Adicionalmente, Lustosa afirma que a PRIP “tem feito há algum tempo um processo de deslegitimação da Amorcrusp como entidade representativa dos moradores”.

A opinião é corroborada por outro morador do Crusp, que declarou ao Informativo Adusp Online que “a instalação dos portões é uma maneira que a PRIP encontrou de eliminar os últimos moradores irregulares do processo eleitoral da Amorcrusp e de garantir a eleição de uma chapa dócil e colaboracionista”. A atual gestão da entidade, de acordo com essa leitura, tem uma postura combativa e de oposição às políticas oficiais da Reitoria.

O mesmo morador diz que o Crusp tem muitos problemas de infraestrutura e manutenção mais urgentes e importantes do que a instalação de portões e grades. Como exemplos, cita goteiras no teto dos banheiros dos apartamentos e o caso de um colega que está sem luz no lavabo da unidade e já solicitou o reparo há cerca de dois meses, sem resposta até o momento.

Leia a íntegra do comunicado “Esclarecimentos sobre a instalação dos portões nos blocos do Crusp”, da PRIP

Prezados/as Moradores/as,

Hoje começamos a instalação dos portões nos blocos do Crusp. É uma demanda histórica dos moradores, um compromisso da USP e da própria representação estudantil. Um dia de celebração de uma moradia estudantil mais segura.

No entanto, diante de uma nova onda de desinformação por parte do Amorcrusp, a PRIP se vê obrigada novamente a mobilizar equipe, tempo e recursos públicos para reiterar esclarecimentos acerca da instalação dos controles de acesso nos prédios da moradia estudantil.

Não é verdade que a instalação dos novos portões não tenha sido debatida com os moradores. O assunto vem sendo discutido desde o ano passado. Nos últimos meses, houve três reuniões abertas a todos os moradores, com presença da representação estudantil, reunindo quase uma centena de pessoas. E no dia 12 de agosto fizemos reunião com a Amorcrusp, que na ocasião se colocou favorável aos portões para garantir a segurança de todos(as) moradores(as), e ficou agendada nova reunião para alinhamento do protocolo.

Não é verdade que os moradores sejam contrários a implantação dos portões. Nas reuniões realizadas, cujos registros estão à disposição dos interessados, as manifestações são esmagadoramente favoráveis ao controle de acesso. Os moradores compreendem que a instalação dos portões é uma medida fundamental para aumentar a segurança da moradia estudantil.

Não é verdade que a instalação dos portões representa arquitetura hostil ou embaraço a circulação. O projeto dos portões permite a transparência na portaria e uma vazão, em caso de necessidade, superior a existente hoje em dia. O projeto está à disposição dos interessados — além de ter sido extensivamente discutido nas três reuniões realizadas.

Não é verdade que haverá mudanças em relação as visitas. Essa questão já foi esclarecida inúmeras vezes, e será novamente aqui reiterada: não haverá mudanças em relação ao fluxo atual de recebimento das visitas.

Não é verdade que a implantação do controle de acesso será feita sem diálogo. A PRIP mencionou inúmeras vezes e reforça: toda a implantação será acompanhada de avaliação permanente, na forma de circulação de questionários, entrevistas com moradores e colaboradores, reuniões com a comunidade Crusp.

Nas reuniões realizadas com os moradores, o que se percebe é uma associação tem um pequeno grupo dirigente que perdeu totalmente a conexão com seus representados. Ofensas a servidores públicos e entre os próprios moradores estão registradas na documentação das reuniões. Cabe perguntar:

A quem interessam as mentiras?

A quem interessa ir contra a segurança no Crusp?

A quem interessa ser contra a moradia estudantil digna para os estudantes da USP?

A PRIP reitera que a representação estudantil é um interlocutor importante para a construção de uma moradia estudantil digna, e que sempre foi respeitada como tal. Mas lamenta profundamente que a atual gestão do Amorcrusp tenha escolhido a disseminação do medo, a distorção de informações, a incivilidade e a violência como caminhos para perpetuar-se no poder.

São gravíssimos os relatos de ameaças aos funcionários da empresa instaladora dos portões. Os responsáveis serão identificados e punidos na forma da lei. A comunidade USP não tolera que sua moradia estudantil seja palco de depredação de patrimônio nem muito menos ameaças de qualquer natureza à vida humana.

A universidade inclusiva, diversa, pública e de qualidade que almejamos construir não pode tolerar isso.

Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento

Coordenadoria de Vida no Campus

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