Em reunião do Conselho de Graduação, pró-reitor Segurado ignora protestos estudantis e de unidades;  Reitoria fala em “adaptações de conteúdo” nas disciplinas e nega retaliação
Estudantes chegam à Reitoria para protesto frente ao CoG (foto: Daniel Garcia)

Recebeu repúdio generalizado na USP a decisão da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), de reduzir as frequências de alunos(as) no segundo semestre a serem lançadas no sistema Júpiter Web conforme o número de semanas em greve, podendo chegar a apenas 68% no caso de seis semanas de paralisação (e portanto, nessa hipótese, provocando reprovações uma vez que o Regimento da USP estipula frequência mínima de 70%). O caráter claramente punitivo e deletério da medida provocou reações de unidades (de início a FFLCH e a EACH) e do movimento estudantil, precisamente no momento em que a greve estava prestes a terminar. Um grupo de discentes decidiu ocupar o prédio da Administração Central.

No plano institucional, o auge do conflito entre a gestão Carlotti Jr.-Nascimento Arruda e a comunidade universitária deu-se na reunião do Conselho de Graduação (CoG) realizada nesta quinta-feira (26/10) à tarde, no prédio da Reitoria. Enquanto o movimento estudantil, que chegou ao local numa grande passeata, protestava na rua diante da Reitoria, na reunião do CoG representantes docentes e discentes argumentavam contra a Circular 5/2023 da PRG e procuravam convencer o pró-reitor Aluisio Cotrim Segurado e seu adjunto Marcos Neira da necessidade de revogação da medida. Tudo em vão, como demonstram os depoimentos de estudantes que participaram da reunião do CoG na condição de representantes discentes (RDs).

Daniel GarciaDaniel Garcia
Medida do pró-reitor Segurado despertou indignação geral

“Cada um de nós fez uma fala, a gente apresentou todas as nossas demandas. Que a gente tem auxílio, que a gente tem estágio, que a gente não pode ‘reprovar’ [ser reprovado]. O que acontece? O pró-reitor foi extremamente intransigente. Por quê? Porque eles não reconhecem a paralisação da Adusp. Eles querem colocar estudante contra professor”, relatou a RD Sofia, das Ciências Sociais (FFLCH).

“Eles falaram: ‘Esta é uma questão trabalhista, a Reitoria não pode fazer com que os professores reponham as aulas e trabalhem mais do que o ano letivo’. Eles colocaram isso”, continuou. “Então a gente não tem hoje, saindo dessa reunião, perspectiva de a Reitoria derrubar essa medida autoritária, antidemocrática. Que universidade eles estão pautando? Eles querem uma universidade sem estudantes”.

“Quero deixar claros os absurdos que aconteceram lá dentro. Além de tudo, foi falado para a gente, explicitamente: ‘Isso foi feito para que vocês voltassem à aula’. Foi colocado para a greve acabar, deixaram isso muito claro”, disse Micael, RD da Escola de Comunicações e Artes (ECA). “Só que diversos docentes falaram a nosso favor. Então as diretorias [de unidades] não compactuam com essa decisão, que foi feita apenas pelo pró-reitor e seu adjunto. Nós precisamos entender que existem docentes do nosso lado e que falaram que isso é um absurdo”, uma vez que dentro das próprias unidades já estavam sendo tomadas providências “que remediavam as questões que a greve havia trazido, mas que foram destruídas” pela PRG. “Os docentes estão com a gente, tenham isso em mente”.

Outro RD, Deco, da FFLCH, chamou atenção para o final da fala de Segurado: “O pró-reitor disse assim: ‘Vocês estudantes precisam entender que as ações voluntárias de vocês têm consequências e têm responsabilidades’. O que ele está querendo dizer? ‘Ah, quiseram fazer greve? Se f. agora, ‘reprovem’, sejam expulsos, a gente não se importa com vocês’. A medida não afeta só os estudantes grevistas, afeta estudantes que nem estavam a favor da greve, que nem participaram da greve. A companheira Sofia fez uma fala muito boa lá em cima, falando dos milhares de estudantes que vão ser expulsos, dos cursos que vão ficar com a grade trancada, a questão dos ingressantes que correm seríssimo risco de ser jubilados, e a resposta deles foi ‘Ah, isso não vai afetar a maioria dos institutos’”.

O RD da FFLCH relatou ainda uma conversa de estudantes com o pró-reitor adjunto Neira após a reunião. “Não, estamos fazendo isso para ajudar vocês, para que a greve acabe”, alegou o ex-diretor da Faculdade de Educação. “Eles são completamente despreparados, eles não têm a mínima ideia do que se passa na universidade”, completou Deco referindo-se aos dirigentes da PRG.

Nesta sexta-feira (27/10), contudo, o reitor Carlotti Jr. reagiu, emitindo uma “Nota de Esclarecimento da Reitoria sobre frequência dos estudantes” que parece sinalizar um recuo, sem no entanto revogar a Circular 5/2023 da PRG conforme já solicitado pela direção da FFLCH e pela Adusp — e implicitamente sugerido pela direção da EACH.

“Como foi informado no Conselho de Graduação, ontem (26/10), esclarecendo circular de orientação da Pró-Reitoria de Graduação, que visava a alertar a comunidade para a necessidade de terminarmos em bom termo nosso semestre letivo, as unidades que tiveram paralisação poderão realizar adaptações de conteúdo em suas disciplinas até o dia 22 de dezembro de 2023, data final do ano letivo” (destaques nossos), diz a nota do reitor. “As notas relativas a essas disciplinas serão lançadas até o dia 9 de fevereiro de 2024, conforme calendário vigente”.

“Nessas condições, torna-se factível o cumprimento da frequência mínima exigida regimentalmente. Caberá a cada docente, em consonância com sua unidade, consolidar a frequência dos estudantes no semestre, levando em consideração as situações específicas. Portanto, com a volta às aulas, não há risco de que alunas e alunos, especialmente do primeiro ano, venham a ser prejudicados”, continua (destaques nossos).

A nota termina com uma aparente oferta de paz: “Esta Reitoria busca a retomada da normalidade da vida acadêmica e não tem intenção de promover perseguição e retaliação de qualquer natureza”.

EXPRESSO ADUSP


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