Universidade
Pesquisadores e docentes universitários repudiam, em nota, autoritarismo do diretor do Museu de Zoologia, e denunciam “ambiente de trabalho hostil e adoecedor”
Mais de 50 pesquisadores e docentes atuantes em universidades do Brasil e do exterior, e em outras instituições públicas brasileiras, emitiram nota de repúdio às “práticas autoritárias e persecutórias” adotadas pela direção do Museu de Zoologia (MZ-USP) contra funcionários(as) e que resultaram na demissão de um deles e na abertura de outros três processos administrativos disciplinares (PADs). “Estas práticas têm acarretado o adoecimento mental dos funcionários e gerado um clima de tensão insustentável”, diz a nota.
Na sua maioria, os signatários são egressos do próprio MZ ou do Instituto de Biociências (IB-USP). “Pela experiência de alguns dos assinantes desta nota com a casa, situações extremas como as observadas atualmente nunca aconteceram no MZ antes”, acrescentam, citando relatos do Boletim do Sindicato do Trabalhadores da USP (Sintusp), reportagem veiculada pelo Informativo Adusp Online e publicação do Fórum das Seis, segundo as quais o diretor Marcelo Duarte tem processado administrativamente os funcionários por razões diversas. O funcionário demitido “tinha mais de 15 anos de carreira dedicados ao MZ”, destaca a nota.
“O que chama atenção neste caso específico é que a demissão assinada pela Direção do MZ (Of. 046 Dir MZ SP 11/12/2023) contrariou a recomendação da Comissão Processante, que indicou a suspensão do servidor. Ora, isso significa que todo funcionário que for processado administrativamente pela gestão do MZ pode ser sumariamente demitido, caso assim decida a direção, independente[mente] da sugestão de encaminhamento feita pelas comissões?”, questiona.
A nota deplora igualmente o fato de que, durante o ato público realizado pelo Sintusp na entrada do MZ em 5/3 para manifestar solidariedade ao funcionário demitido, o diretor “mandou que fechassem as portas do museu, impedindo a entrada dos visitantes”, e chamou a Polícia Militar para “acompanhar” a situação. “Tais decisões parecem demonstrar, mais uma vez, que o diretor não possui habilidade para dialogar com o contraditório e tampouco para o exercício da democracia, condições essenciais para gerir com lisura as instituições públicas”, assinala. “É lamentável que uma instituição com tamanha importância para a Ciência, com uma história pautada na formação de profissionais diversos e tão importante para o país, tenha se tornado um ambiente de trabalho hostil e adoecedor”.
Diante dessa situação, a nota repudia tais práticas antidemocráticas e lembra que, atualmente, os(as) técnicos(as) da instituição “têm medo de se expressar ou de realizar qualquer ação que possa ocasionar uma retaliação por parte do diretor”. Termina com um pedido de mudança nos rumos do MZ: “Esperamos que a atual gestão reveja suas práticas e tenha consciência e responsabilidade ao gerir uma instituição tão importante, que, ao longo das décadas, vem contribuindo socialmente com a formação de recursos humanos, na educação, divulgação científica e extensão”.
“Nota de repúdio ao comportamento autoritário da direção do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo” (íntegra)
Recentemente, recebemos com preocupação as notícias sobre a atual direção do MZUSP, que vem adotando práticas autoritárias e persecutórias aos funcionários da instituição. Conforme relatado no Boletim do Sindicato do Trabalhadores da USP (nos . 8, 9 e 10/2024, disponíveis em https://www.sintusp.org.br/boletins/), pela Adusp (disponível em: sp.org.br/universidade/sintusp-prot/https://adu) e pelo Fórum das Seis (Boletim do Fórum das Seis – 11/3/2024 – Pág.3), o atual diretor do MZUSP tem processado administrativamente os funcionários por razões diversas e desconsiderado as decisões das comissões formadas para avaliar tais processos. Estas práticas têm acarretado o adoecimento mental dos funcionários e gerado um clima de tensão insustentável no MZUSP. Pela experiência de alguns dos assinantes desta nota com a casa, situações extremas como as observadas atualmente nunca aconteceram no MZUSP antes.
No mês passado, um desses processos culminou na demissão de um funcionário com mais de 15 anos de carreira dedicados ao MZUSP. O que chama atenção neste caso específico é que a demissão assinada pela Direção do MZ (OF. 046 Dir MZ SP 11 12 2023) contrariou a recomendação da Comissão Processante, que indicou a suspensão do servidor. Ora, isso significa que todo funcionário que for processado administrativamente pela gestão do MZ pode ser sumariamente demitido, caso assim decida a direção, independente da sugestão de encaminhamento feita pelas comissões? Após essa ocorrência lamentável, o SINTUSP realizou um ato no MZUSP no dia 5/03 para manifestar solidariedade ao funcionário demitido.
Na ocasião, o diretor do MZ mandou que fechassem as portas do museu, impedindo a entrada dos visitantes à exposição e chamou a Polícia Militar para “acompanhar” a situação. Tais decisões parecem demonstrar, mais uma vez, que o diretor não possui habilidade para dialogar com o contraditório e tampouco para o exercício da democracia, condições essenciais para gerir com lisura as instituições públicas.
Diante dessa situação, nós, como egressos(as) do MZ e/ou do IB-USP e demais pesquisadores vinculados ao MZ, e atuais docentes e profissionais de diversas instituições no país e no exterior, repudiamos tais práticas antidemocráticas. É lamentável que uma instituição com tamanha importância para a Ciência, com uma história pautada na formação de profissionais diversos e tão importante para o país tenha se tornado um ambiente de trabalho hostil e adoecedor. Atualmente, os servidores técnicos da instituição têm medo de se expressar ou de realizar qualquer ação que possa ocasionar uma retaliação por parte do diretor. Reiteramos ainda que um ambiente assim acomete não apenas servidores da instituição, mas discentes e visitantes. Esperamos que a atual gestão reveja suas práticas e tenha consciência e responsabilidade ao gerir uma instituição tão importante, que, ao longo das décadas, vem contribuindo socialmente com a formação de recursos humanos, na educação, divulgação científica e extensão.
Assinam a nota (em ordem alfabética):
1. Adriano Jerozolimski – Pesquisador, International Conservation Fund of Canada
2. Almir Rogério Pepato – Docente, Universidade Federal de Minas Gerais
3. Amanda Elisa Geraldes Monteiro – Bióloga
4. Ana Paula Siqueira Dornellas – Docente, Universidade Federal de Sergipe
5. André Braga Junqueira – Biólogo
6. André Luiz Netto Ferreira – Docente, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
7. Angela Maria Zanata – Docente, Universidade Federal da Bahia
8. Bruno Gabriel Nunes Pralon – Docente, Universidade Federal do Piauí
9. Camila Malta Romano – Pesquisadora, Universidade de São Paulo
10. Carine Cavalcante Chamon – Docente, Universidade Federal do Tocantins
11. Carolina de Castro Mello DHorta – Bióloga, ex-funcionária do MZUSP
12. Caroline Cotrim Aires – Secretaria do Verde e Meio Ambiente – Prefeitura de São Paulo
13. Cibele Bragagnolo – Docente, Universidade Federal de São Paulo
14. Claudia de Melo Battagia – ex-funcionária do MZUSP
15. Fabio Di Dario – Docente, Universidade Federal do Rio de Janeiro
16. Fábio Gaiger Silveira – Consultor Técnico da Organização Panamericana de Saúde/Ministério da Saúde (OPAS/MS)
17. Fabio Kiyohara – Biólogo
18. George Mendes Taliaferro Mattox – Docente, Universidade Federal de São Carlos
19. Guilherme Renzo Rocha Brito – Docente, Universidade Federal de Santa Catarina
20. Guillermo Guzmán – Biólogo Marino. Académico Universidad Arturo Prat de Iquique- Chile
21. Ilana Fichberg – Docente, Universidade Federal de São Paulo/Diadema
22. Jane Piton Serra – Docente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
23. Janete Rocha – EACH
24. Janice Muriel-Cunha – Docente, Universidade Federal do Pará
25. João Paulo Capretz da Silva – Docente, Universidade Federal da Paraíba
26. José Paulo Leite Guadanucci – Docente, Universidade Estadual Paulista
27. Juliana Cristina Fukuda- Bióloga
28. Juliana Lopes Segadilha – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
29. Katiane Mara Ferreira – Docente, Universidade Federal de Mato Grosso
30. Leandro Melo de Sousa – Docente, Universidade Federal do Pará
31. Leila Costa Vecchio – Bióloga, consultora de projetos
32. Lina Maria Almeida Silva – Pós-doutoranda, Universidade Estadual de Campinas
33. Luciana Moreira Lobo – Consultora ambiental
34. Manoela Maria Ferreira Marinho – Docente, Universidade Federal da Paraíba
35. Marcelo Roberto Souto de Melo – Docente, Universidade de São Paulo
36. Marcio Bernardino da Silva – Docente, Universidade Federal da Paraíba
37. Marcus Vinícius Domingues – Docente, Universidade Federal do Pará
38. Maria Beatriz Nogueira Ribeiro – Bióloga IB-USP
39. Maria Elina Bichuette – Docente, UFSCar São Carlos
40. Maria Luísa SP Jorge – Professora, Universidade Vanderbilt
41. Marianna Botelho de Oliveira Dixo – Bióloga – Ecóloga USP – Hileia Consultoria Ambiental 42. Maximiliano Manuel Maronna – Pesquisador, Universidade Federal do Rio Grande
43. Nancy Lo Man Hung – Bióloga, Universidade de São Paulo
44. Pedro Murilo Sales Nunes – Docente, Universidade Federal de Pernambuco
45. Priscila Camelier – Docente, Universidade Federal da Bahia
46. Rodrigo Cesar Marques – Docente, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
47. Rogério Teiji Hirata – Biólogo e Pedagogo
48. Teresa Beatriz Nunes Guimarães – ex-funcionária do MZUSP
49. Thiago Nilton Alves Pereira – Docente, Universidade Federal do Tocantins
50. Viviane Schuch – Pesquisadora, Morehouse School of Medicine
51. Veronica Mantovani Bueno – Pesquisadora, University of Connecticut
52. Vivian Moreira Montemor – Doutoranda, UNESP-Rio Claro
53. Tainá Stauffer de Oliveira – Técnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro
54. Tulio Franco Teixeira – Zoólogo, egresso do MZUSP.
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