Conjuntura Nacional
Rede Não Cala manifesta solidariedade a Marina Silva, e pede cassação de senador que disse para a ministra: “se ponha no teu lugar”

A Rede Não Cala, coletivo de professoras e pesquisadoras pelo fim da violência sexual e de gênero na USP, divulgou na última quinta-feira (29 de maio) nota de repúdio à violência sofrida pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado, realizada no dia 27 de maio.
A ministra, que participava da sessão como convidada para tratar da criação de unidades de conservação marítimas no Amapá, deixou a audiência depois de ser ofendida pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM). Numa de suas intervenções, Valério afirmou que estava falando “com a ministra e não com a mulher, porque a mulher merece respeito, a ministra, não”.
Marina Silva foi ofendida também pelos senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Marcos Rogério (PL-RO), que chegou a dizer à ministra: “se ponha no teu lugar” [sic].
“As falas e condutas dos senadores presentes, que tentaram silenciar e desqualificar a Ministra — inclusive dizendo para ‘se colocar no seu lugar’ — além de ferirem as normas de decoro parlamentar, escancaram o machismo e o racismo que permeiam as relações de poder no Brasil, buscando excluir e deslegitimar a presença e a voz de mulheres. Tais atitudes configuram-se como violência política de gênero, como caracterizada pela Lei 14.192/2021”, afirma a nota da Rede Não Cala.
“Marina Silva, mulher negra, amazônida e referência na luta ambiental, simboliza a resistência diante de múltiplas opressões e a construção de políticas públicas comprometidas com a justiça socioambiental. O ataque dirigido a ela é um ataque a todas as mulheres que ousam ocupar espaços de decisão e transformar realidades”, prossegue a Rede.
O coletivo defende que “a conduta dos parlamentares envolvidos seja examinada pela Comissão de Ética e devidamente denunciada” e reivindica a cassação do senador Marcos Rogério (leia a íntegra ao final do texto).
Senador que ofendeu ministra tem imóvel irregular em reserva
De acordo com reportagem do observatório De Olho nos Ruralistas, Plínio Valério possui um imóvel irregular em reserva às margens do Rio Negro no Amazonas, o qual aluga como casa de veraneio.
O senador presidiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na casa em 2023 para investigar a atuação de organizações não governamentais (ONGs) na Amazônia, na qual a ministra Marina Silva foi ouvida.
Em março, num evento no Amazonas, Valério declarou que tinha vontade de “enforcar” a ministra.
Em entrevista concedida depois das agressões sofridas na audiência no Senado, Marina Silva afirmou: “O meu lugar é o lugar da defesa da democracia, o meu lugar é o lugar da defesa do meio ambiente, do combate à desigualdade, do desenvolvimento sustentável, da proteção da biodiversidade, de projetos de infraestrutura necessários ao país”.
A ministra, que pediu que Valério se desculpasse na sessão, o que não ocorreu, declarou ainda: “O que não pode é alguém achar que porque você é mulher, é preta, vem de uma trajetória de vida humilde, você vai dizer quem eu sou e ainda dizer que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar”.
Entidades protestam contra “PL da Devastação”, em tramitação na Câmara dos Deputados
Uma das razões centrais dos ataques da bancada ruralista à ministra é a sua resistência ao Projeto de Lei (PL) 2.159/2021, o chamado “PL da Devastação”, que afrouxa as exigências do licenciamento ambiental para empreendimentos que exploram recursos naturais e sejam potencialmente poluidores. Entidades e pesquisadores(as) classificam o projeto como o maior retrocesso ambiental das últimas décadas no país.
O texto foi aprovado no Senado no último dia 21 de maio por 54 votos a 13 e voltou para a Câmara dos Deputados. No dia seguinte à votação, Marina Silva declarou em nota que o PL “afronta diretamente a Constituição Federal, que no artigo 225 garante aos cidadãos brasileiros o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, com exigência de estudo prévio de impacto ambiental para instalação de qualquer obra ou atividade que possa causar prejuízos ambientais”.

No último domingo (1o de junho), entidades organizaram manifestações em diversas cidades do país em protesto contra o PL da Devastação. Em São Paulo, o ato ocorreu na Avenida Paulista e teve a participação de docentes ligados(as) à Adusp. Em Ribeirão Preto, a manifestação na Avenida 9 de Julho também contou com representação da entidade. (Leia aqui nota do GTPAS da Adusp a respeito do PL 2.159/2021.)
“Nota de Repúdio da Rede Não Cala à Violência Política de Gênero sofrida pela Ministra Marina Silva”
A Rede Não Cala – Rede de Professoras e Pesquisadoras pelo Fim da Violência Sexual e de Gênero na USP, coletivo comprometido com a luta pelo fim da violência sexual e de gênero na Universidade de São Paulo, manifesta seu veemente repúdio às agressões verbais e aos ataques misóginos e racistas dirigidos à Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante a audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, em 27 de maio de 2025.
As falas e condutas dos senadores presentes, que tentaram silenciar e desqualificar a Ministra, – inclusive dizendo para “se colocar no seu lugar” – além de ferirem as normas de decoro parlamentar, escancaram o machismo e o racismo que permeiam as relações de poder no Brasil, buscando excluir e deslegitimar a presença e a voz de mulheres. Tais atitudes configuram-se como violência política de gênero, como caracterizada pela Lei n° 14.192/2021.
Marina Silva, mulher negra, amazônida e referência na luta ambiental, simboliza a resistência diante de múltiplas opressões e a construção de políticas públicas comprometidas com a justiça socioambiental. O ataque dirigido a ela é um ataque a todas as mulheres que ousam ocupar espaços de decisão e transformar realidades.
Manifestamos nossa solidariedade incondicional à Ministra Marina Silva e a todas as mulheres que enfrentam o machismo e o racismo em suas trajetórias. Solicitamos que a conduta dos parlamentares envolvidos seja examinada pela Comissão de Ética e devidamente denunciada, bem como a cassação do Senador Marcos Rogério. Reafirmamos nosso compromisso com a luta pelo fim da violência sexual e de gênero, não apenas na universidade, mas também na política e em todo o Brasil.
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Sete docentes que não entregaram RAD respondem a “sindicância punitiva”, e outros(as) 32 precisaram firmar “protocolo de compromisso”; novo ciclo do PrADo terá início no segundo semestre
- Governo estadual altera estatuto do IPT para criar “conselho de orientação”, e Vahan nomeia como integrante Roberto Sallouti, “CEO” do BTG Pactual e dirigente da Faculdade Inteli
- Reitor retira da pauta do Conselho Universitário a proposta de mudanças na sistemática de concursos para ingresso de docentes, mas anuncia votação “em breve”
- Nesta terça 24/6, Conselho Universitário deve votar proposta de mudanças na sistemática de concursos para ingresso de docentes; de novo, Reitoria deixou de consultar a comunidade acadêmica
- Justiça Federal emite mandado de prisão contra o “hacker” Azael, autor de ataques à USP em março