Brasil
Na Esalq, XII JURA abordou ricas temáticas associadas à reforma agrária e à agroecologia

A décima-segunda edição da Jornada Universitária de Reforma Agrária (JURA) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) apresentou uma inovação importante. O Grupo de Trabalho sobre o restaurante universitário (GT RUCAS) organizou o que foi denominado “Pré-JURA”, no qual o problema da alimentação oferecida no campus da Esalq esteve no primeiro plano do debate.
Membro deste GT, Ricardo Ortega enumerou as etapas de precarização dos serviços alimentares do campus desde sua terceirização, em 2016. Com efeito, os estudantes mais vulneráveis sofrem uma verdadeira situação de insegurança alimentar. Para salientar a recorrente interrupção destes serviços, já considerados de péssima qualidade por seus usuários, o diretor regional da Adusp, professor Paulo Moruzzi Marques, lembrou que no Informativo Adusp foram publicadas oito matérias sobre o problema. Todas destacam a mobilização estudantil contra este quadro de calamidade.
Como uma resposta ao problema, a deputada Mariana Souza, da bancada feminista do PSOL, apresentou o projeto de lei 365, “que dispõe sobre a aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar orgânica e agroecológica pelas Universidades Públicas Estaduais do Estado de São Paulo”. Mesmo que se leve em conta as dificuldades de implantação de tal proposta, a ideia foi considerada muito bem-vinda por Eunice Pimenta, representante do Assentamento Milton Santos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), nesta atividade.
Trata-se de um passo importante para fomentar reflexão e debate sobre a questão, que tende a favorecer uma maior conexão da Esalq com os territórios de Piracicaba. Este ponto foi realçado por José Carlos Elias Júnior, vice-presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar, que identifica escassa presença da Esalq no enfrentamento dos problemas piracicabanos. A propósito, o Movimento de Juventude Ecossocialista Travessia propõe no seu perfil do Instagram um abaixo-assinado em favor do citado PL.

Em paralelo aos debates da Pré-JURA, ocorreu na entrada do Pavilhão de Ciências Humanas a “feira agroecológica da juventude”, reunindo produtores e produtoras do Assentamento Milton Santos e integrantes da Rede Guandu de produção e comercialização responsável.
Na abertura propriamente da XII JURA, os representantes do MST Walkyria Romani e Régis Philippe de Souza Pereira realçaram o papel da juventude para levar adiante o projeto de reforma agrária popular, reconhecendo a importância da experiência e do conhecimento das gerações mais velhas para o alcance deste propósito.
O professor Marcos Bernardino de Carvalho (EACH), representante do Grupo de Trabalho de Políticas Agrárias e Socioambientais da Adusp (GTPAS), explanou seu ceticismo quanto à realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025- Conferência das Partes, conhecida como COP30, que a seu ver não representa efetivamente uma perspectiva de resolução dos graves problemas socioambientais do planeta.
Para Carvalho, o movimento docente (que incorpora gradualmente as noções de “bem-viver” e de “direitos da natureza”) deve ter uma ação decisiva em apoio ao movimento social, que apresenta efetivas formas de combate à crise socioambiental, especialmente com reforma agrária e agroecologia. Lembrou também da importância da mobilização em torno do Acampamento Terra Livre, lugar de construção de alternativas consistentes ao capitalismo excludente e destruidor.

Na quinta-feira, Carolina Refinetti Schiesari (pós-doutoranda do Grupo de Pesquisa em Agriculturas Emergentes e Alternativa, Agremal) e Germano de Freitas Chagas (coordenador técnico do projeto “Corredor Caipira” do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental, NACE-PTECA) apresentaram projetos em curso e pesquisas concluídas sobre a implantação de sistemas agroflorestais em assentamentos no estado de São Paulo. Trata-se de arranjo produtivo agroecológico muito promissor para os propósitos de “Plantio de Árvores e Produção de Alimentos Saudáveis”, tal como preconizado pelo MST.
De outra parte, Débora Paiva representou a equipe que inicia uma nova frente no Vale do Paraíba do “Programa de Formação em Assistência Técnica e Extensão Rural para Assentamentos de Reforma Agrária”. Esta iniciativa visa notadamente engajar jovens assentados enquanto agentes do desenvolvimento local, atuando sobretudo como promotores de acesso a dispositivos de política pública para a reforma agrária.
Ainda nesta sessão da XII JURA da Esalq, Luiz Octávio Ramos Filho, pesquisador da Embrapa Meio-Ambiente, delineou avanços e bloqueios da implantação de sistemas agroflorestais em assentamentos rurais graças ao Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável conduzido pela Secretaria Estadual de Meio-Ambiente ao longo da década de 2010. Para Ramos Filho, conciliar floresta e agricultura constitui uma via consistente para o objetivo de uma reforma agrária agroecológica. Na ocasião, este pesquisador recebeu o Prêmio Paulo Kageyama, atribuído a personalidades com significativas contribuições em favor da agroecologia, da reforma agrária, da agricultura familiar e da universidade para todos.
Nesta mesma tarde, as ativistas Maria de Fátima da Silva, advogada popular, militante do MST e assentada da reforma agrária no Assentamento Milton Santos; Savana Marilu Fernandes, servidora pública municipal, conselheira do Conselho Municipal de Segurança Alimentar-Comsea, integrante de outros colegiados e voluntária na Casa do HipHop; e Josélia Emídio, integrante do Baque Caipira, Movimento Tô aqui e fórum Engrenagem, foram igualmente agraciadas com o Prêmio Paulo Kageyama. Elas tiveram oportunidade de expor suas atividades e compromissos com causas emancipadoras.
Na quinta-feira, no período noturno, o SESC Piracicaba foi palco do Cine-Debate Marielle Vive. Dois documentários foram exibidos, fruto da produção de filmes no âmbito da disciplina-extensão da Unicamp “Questão Agrária e Multimeios”. Trata-se de esforço para produzir cinema popular comunitário como ferramenta de transformação social. Os documentários focalizam a realidade do Acampamento Marielle Vive e a atividade contou com a participação das cineastas e de acampadas, cujos depoimentos realçam a produção local de alimentos saudáveis com base em agroecologia como consistente meio de inclusão social.
Intitulada “Agroecologia na boca do povo”, a mesa de encerramento da XII JURA promoveu a ideia de conectar os mundos da “cultura popular”, com seus diferentes ritmos, com a agroecologia. A atividade foi muito rica em manifestações artísticas, com participação de Vanderlei Bastos (Fundador da Casa do Batuqueiro), do grupo de rap 4 Mulheres Pretas (4MP), Ana Carolina (jovem agricultora agroecológica militante do MST) e PH Santin (jovem multiartista piracicabano).
No sábado, 26 de abril, ainda ocorreu um importante encontro no Assentamento Milton Santos reunindo juventudes do campo e da cidade para discutir o enfrentamento da crise socioambiental. O SESC Piracicaba também apoiou a iniciativa, incluindo o evento em sua programação mensal.
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