Em vídeo que tem M.A. Zago como coadjuvante, Doria anuncia que não haverá corte de verbas na Fapesp

Phelipe Janning/Agência Fapesp

Doria e Zago: performance ensaiada

O governador João Doria (PSDB) anunciou na última quarta-feira (25/11) que não será aplicada a Desvinculação de Receitas de Estados e Municípios (DREM) ao orçamento de 2021 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Doria fez o pronunciamento por meio de um vídeo gravado na abertura do programa IPT Open Experience — ponta de lança de um projeto voltado a atrair grandes empresas e startups para um novo centro no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com o objetivo de criar o que o governo chama de um “Vale do Silício” paulista. O reitor da USP, Vahan Agopyan, compareceu à abertura do evento.

A aplicação da DREM, prevista no Anexo IX do projeto de lei 627/2020, que trata da Lei Orçamentária Anual (LOA), significaria um corte de 30% nos recursos da fundação — o equivalente a mais de R$ 450 milhões. A medida é fortemente rechaçada pela comunidade acadêmica, que se mobilizou para defender sua derrubada. Na reunião do dia 24/11, o Conselho Universitário da USP aprovou uma manifestação contrária ao corte de verbas.

No vídeo gravado na abertura do evento no IPT e divulgado pela Agência Fapesp, tendo como companheiro de cena o presidente da fundação, Marco Antonio Zago, ex-reitor da USP, Doria exibe toda a desenvoltura cultivada em seus anos de apresentador de programas televisivos como “Show Business” e de publisher de revistas como Caviar Lifestyle — regalada, coincidentemente, com vários anúncios, devidamente remunerados, do governo estadual nas gestões de Geraldo Alckmin (PSDB). É uma performance profissional, digna de quem governa com uma câmera na mão e uma ideia fixa — “Planalto 2022” — na cabeça.

Voltando-se para Zago, Doria abre o vídeo dizendo que está “ao lado da universidade que você dirigiu por tantos anos e dirigiu muito bem, por sinal”. Fica no ar a dúvida: será que se trata do mesmo Zago, da mesma gestão desastrosa e da mesma universidade que até hoje se ressente das suas consequências?

Alesp não recebeu nenhum documento alterando o PL 627/2020, diz deputado

Na sequência, o governador ressalta que o IPT Open Experience “é a confirmação do apoio do governo do Estado de São Paulo à inovação, à ciência, à tecnologia e à pesquisa”. O coadjuvante ex-reitor balança a cabeça afirmativamente.

“Aproveitei a presença do professor Zago para reafirmar a ele o que ele já tinha como informação, mas faço isso publicamente”, prossegue Doria, num estilo algo tortuoso. “Nós não vamos aplicar a DREM, que poderia gerar algum prejuízo à Fapesp. Isso não haverá, ao contrário, estabelecemos ontem no Palácio dos Bandeirantes uma produtiva reunião para somar forças e investimentos na pesquisa, na ciência e na tecnologia.” O governador então, no estilo de um ensaiado esquete televisivo, pergunta a Zago — que, durante a fala de Doria, chegou mesmo a fazer o sinal de “positivo” com as mãos: “É isso, professor Zago?”

Usando a deixa preparada como escada por Doria, o ex-reitor mata no peito e dá sequência à encenação — embora lhe falte, é claro, o mesmo traquejo midiático do colega. “É isso, governador. Eu posso dizer que é uma decisão sábia, que é direcionar recursos para o desenvolvimento do Estado de São Paulo com base na ciência e na tecnologia. Essa é a nossa missão e eu agradeço enormemente essa sua visão política e prática desta questão”, diz.

Para encerrar a performance na qual qualifica o confisco de quase meio bilhão de reais de “algum prejuízo”, Doria propõe um gesto de união dos punhos fechados de ambos — como se sabe, as medidas de prevenção ao novo coronavírus não recomendam o aperto de mãos. A cena seria constrangedora por si só, mas recebe um adicional cômico porque Zago oferece a mão direita e Doria o instrui a aproximar a esquerda. Como se recitasse um mantra motivacional ou uma espécie de moral da história ao final do episódio de uma série, o governador proclama para a câmera: “Sempre juntos pela ciência, pela tecnologia, pela inovação e pela pesquisa em São Paulo”.

Na avaliação do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), o performático anúncio de Doria não assegura a suspensão do confisco. “Concretamente, nós não temos nenhuma garantia. Não veio nenhum documento aqui para a Assembleia Legislativa (Alesp) para alterar o projeto de lei do Orçamento”, afirmou o deputado em pronunciamento na tribuna da Casa.

De fato, até a tarde desta terça-feira (1/12), o site da Alesp não registrava nenhuma movimentação que indicasse a retirada da medida. O PL 627/2020 segue tramitando na Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento, tendo como relator o deputado Delegado Olim (PP).

EXPRESSO ADUSP


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