Alunos calouros de joelhos: prática recorrente na Esalq. Imagem captada em 19 de maio de 2025

Apesar das denúncias apresentadas às instâncias competentes da USP — Gabinete do Reitor, Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), direções da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) e Prefeitura do Câmpus de Piracicaba — por diversas entidades e coletivos, inclusive a Adusp, a prática de trotes humilhantes, discriminatórios e de teor racista aplicados a discentes ingressantes por estudantes veteranos(as), ao longo deste mês de maio, ocorreu ostensivamente e, aparentemente, sem qualquer embaraço.

Assim, a recente temporada de trote no câmpus de Piracicaba terminou sem que qualquer atitude efetiva tenha sido tomada seja pelas direções da Esalq ou do CENA, seja por qualquer outra instância ou órgão da USP, embora essa modalidade de trote seja expressamente proibida por três leis estaduais: 10.454/1999, 15.892/2015 e 18.013/2024. A mais recente delas prevê punição administrativa das autoridades que vierem a se omitir na aplicação da lei.

Mesmo depois que foram publicadas reportagens sobre o trote, e que, no dia 9 de maio, a direção da Esalq enviou nota ao portal G1 (depois também encaminhada à Adusp, no dia 12) na qual proclama seu “compromisso com a promoção de um ambiente acadêmico seguro, respeitoso e acolhedor para todos os seus estudantes”, a prática continuou ocorrendo na área central do câmpus, no Centro de Vivências “Luiz Hirata” (confira vídeo aqui), bem ao lado do prédio central da Esalq, que sedia a Diretoria e a Prefeitura do Câmpus. Não há notícia da abertura de qualquer procedimento de apuração.

Na última sexta-feira, 23 de maio, inconformada com a reiteração da prática no decorrer da semana, a Associação de Pós-Graduação (APG) da Esalq protocolou na Diretoria da unidade, no núcleo local da PRIP e na Prefeitura do Câmpus o documento intitulado “Nota da APG-Esalq sobre a resposta da Diretoria da Unidade a respeito de práticas de trote e assédio” (já publicado pelo Informativo Adusp Online), no qual aponta inconsistências no pronunciamento oficial.

Protocolou também, na ocasião, uma versão atualizada do “Manifesto Público à Universidade de São Paulo: até quando a USP será conivente com a ‘tradição’?”, na qual menciona a realização de novos trotes abusivos, registrados nas datas de 19 e 25 de maio, e anexa ao documento fotografias das respectivas atividades. O texto cita ainda verso de um canto misógino entoado numa das ocasiões: “baile do bicho é muito bacana/pegue a sua doutora/ e leve para cama” (confira vídeo aqui).

Até o momento, a APG-Esalq não recebeu resposta.

Antônio Ribeiro de Almeida Jr., professor titular da Esalq, conhecido por seus estudos sobre a prática do trote nas universidades, questiona as alegações apresentadas pelos gestores da unidade no tocante a como lidar com a questão, com destaque para as recorrentes explicações do prefeito de câmpus a estudantes contrários à prática, de que a Guarda Universitária não dispõe do contingente necessário. “O discurso é: ‘o trote não usa coerção e está tudo bem’, mas ao mesmo tempo afirma-se que ‘a Guarda do câmpus não tem efetivo suficiente para conter a situação’ e ‘há risco de confrontação’. Se o grupo trotista ameaça a Guarda, a Prefeitura e a Diretoria, nada está tão bem assim”, pondera Almeida em declarações concedidas ao Informativo Adusp Online.

“A Guarda do câmpus não tem contingente para enfrentar o grupo trotista e isso é motivo para descumprir a lei? Isso é motivo para abandonar os alunos de primeiro ano? Tudo isso funciona como um endosso às atividades do trote e do grupo trotista”, considera o docente. “Não há contingente para enfrentar o grupo trotista, mas há contingente para ameaçar o grupo de estudantes que reivindica bom atendimento no restaurante. A ausência de denúncias talvez se deva à falta de confiança na direção. Se nada será feito, denunciar para quê?”, conclui.

EXPRESSO ADUSP


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