Universidade
Adusp e outros sete coletivos encaminham à Reitoria, à PRIP e às direções da Esalq e CENA manifesto de repúdio ao trote ilegal no campus de Piracicaba, e cobram medidas imediatas
“A USP precisa romper com práticas que desonram seu compromisso com a inclusão e o pertencimento! Exigimos ações concretas, fiscalização efetiva, responsabilização dos envolvidos e políticas que garantam um ambiente verdadeiramente acolhedor, seguro e igualitário para todos”, diz manifesto de repúdio à prática do trote no campus de Piracicaba, assinado por oito entidades e coletivos de representação.
Os grupos signatários cobram da universidade que “cesse a perpetuação de práticas criminosas, violentas, simbólica e historicamente racistas que ocorrem, ano após ano, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba-SP”, as quais “violam a Lei 18.013/2024, que obriga instituições de ensino a coibir e responsabilizar práticas ilegais de recepção, constrangimento e violência contra estudantes”.
Intitulado “Manifesto Público à Universidade de São Paulo: até quando a USP será conivente com a ‘tradição’?”, o documento está sendo encaminhado à Reitoria, à Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), às diretorias da Esalq e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) e à Prefeitura do Campus, para que tomem as providências reivindicadas, em especial a proibição do evento denominado “Libertação dos Bixos”, por suas conotações racistas.
Realizada na semana de 13 de maio, “marco da abolição da escravidão no Brasil”, a “Libertação dos Bixos” consiste em coagir calouros a praticarem “atos vexatórios como sujar-se com borra de café e tinta preta, andar amarrados nas ruas da cidade e acompanhar veteranos de forma completamente submissa”, tipo de performance pública que “reencena de forma grotesca a escravidão, desrespeitando a memória histórica e a dignidade humana, podendo denotar atitude criminosa por se caracterizar como racismo”.
Nesta quarta-feira, 7 de maio, o Informativo Adusp Online publicou reportagem sobre a realização de trote humilhante com a participação de dezenas de alunos, no último dia 5 e em outras datas, diante do prédio central da Esalq. Até o momento a diretoria da unidade não deu resposta às questões que lhe foram enviadas, a saber: 1) “Sendo o trote uma prática ilegal, a direção da unidade pretende tomar medidas para coibir essa prática?”, e 2) “A unidade ou alguma de suas instâncias (Ouvidoria, Núcleo de Inclusão e Pertencimento etc.) recebeu queixas relacionadas ao trote em 2025 ou em anos anteriores? Se sim, que medidas foram tomadas a respeito?”.
Assinam o manifesto a Associação de Pós-Graduação da Esalq (APG-Esalq), a Associação de Pós-Graduação do CENA (APG-CENA), a Adusp, o Coletivo Negro Baobás, o Grupo de Trabalho RUCAS, o Coletivo LGBTQ+ (Integra-Esalq), o Centro Acadêmico de Gestão Ambiental (CAGeA) e o Movimento “Juventude Travessia”.
Leia a seguir a íntegra do documento.
Manifesto Público à Universidade de São Paulo: até quando a USP será conivente com a “tradição”?
As Associações de Pós-Graduação da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (APG-ESALQ) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (APG-CENA) da Universidade de São Paulo, a Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (ADUSP), o Coletivo Negro Baobás, o Grupo de Trabalho RUCAS, o Coletivo LGBTQ+ (Integra-Esalq), o Centro Acadêmico de Gestão Ambiental (CAGeA), o Movimento “Juventude Travessia”, vêm, por meio deste manifesto, denunciar e apelar publicamente à Reitoria e à Pró-Reitora de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da Universidade de São Paulo, bem como a toda a comunidade uspiana, que cesse a perpetuação de práticas criminosas, violentas, simbólica e historicamente racistas que ocorrem, ano após ano, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP), em Piracicaba-SP.
Lamentavelmente, gestores(as) do campus de Piracicaba permanecem omissos(as). Não seria conivência diante de práticas de trote realizadas de forma ostensiva no início de cada semestre, em frente ao prédio central da Universidade? As cenas de calouros ajoelhados perante veteranos, comumente classificadas como “tradição”, materializam uma hierarquia de dominação e submissão incompatível com os valores de uma universidade pública e democrática. Tais práticas remontam a uma sociedade colonial e escravocrata que jamais deveria encontrar em um espaço de uma instituição de ensino comprometida com a ciência, a cidadania e os direitos humanos, que reconhece o histórico de violência e opressões da sociedade brasileira.
Esses atos, além de moralmente inaceitáveis, violam a Lei nº 18.013/2024, que obriga instituições de ensino a coibir e responsabilizar práticas ilegais de recepção, constrangimento e violência contra estudantes. Ainda assim, trotes abusivos persistem na universidade, com a anuência de docentes, ex-alunos(as), “veteranos(as)”, especialmente entre os(as) que se identificam como “esalqueanos(as)” (foto acima). As violências se estendem para repúblicas, festas e espaços públicos de Piracicaba-SP, com recorrentes relatos de assédios e constrangimentos. Destaca-se, de forma alarmante, a chamada “libertação dos bixos”, realizada na semana de 13 de Maio (marco da abolição da escravidão no Brasil), em que calouros são coagidos a atos vexatórios como sujar-se com borra de café e tinta preta, andar amarrados nas ruas da cidade e acompanhar veteranos de forma completamente submissa. Esse tipo de performance pública reencena de forma grotesca a escravidão, desrespeitando a memória histórica e a dignidade humana, podendo denotar atitude criminosa por se caracterizar como racismo.
Diante destes absurdos, perguntamos: até quando a Universidade de São Paulo será negligente com os seus próprios estudantes e silenciará diante de ações que reforçam estruturas históricas de opressão racial e social? Desta ótica, é absolutamente necessária a proibição da aberração representada pela “libertação dos bixos”.
Este manifesto é um apelo urgente por justiça, responsabilidade institucional e transformação. A USP precisa romper com práticas que desonram seu compromisso com a inclusão e o pertencimento! Exigimos ações concretas, fiscalização efetiva, responsabilização dos envolvidos e políticas que garantam um ambiente verdadeiramente acolhedor, seguro e igualitário para todos.
CONTRA AS OPRESSÕES DE TODO TIPO E O RACISMO INSTITUCIONAL!
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